Alunos bloqueiam entrada da escola Antonio Arroio pelo fim dos combustíveis fósseis
Um grupo de alunos da escola secundária António Arroio, em Lisboa, colou-se às portas da escola, bloqueando a entrada, em protesto pelo fim dos combustíveis fósseis, e houve estudantes em protesto no telhado.
Os alunos estão desde segunda-feira a ocupar a escola, num protesto que se repete em outras cinco escolas e faculdades da capital com uma reivindicação comum: o fim dos combustíveis fósseis.
Hoje, os alunos decidiram bloquear o acesso à escola por sentirem que as suas reivindicações não estavam a ser ouvidas, explicou à Lusa no local a porta-voz da greve climática estudantil, Alice Gato, mas, apesar disso, a direção decidiu não chamar as autoridades.
Ao início da manhã, os portões da escola foram fechados e dezenas de estudantes barricaram-se no interior, com algumas ativistas coladas à porta da entrada principal, impedindo que alguém por ali entrasse.
Por causa do bloqueio, não houve aulas durante a manhã.
Pelas 11:00, havia cerca de uma centena de alunos sentados em frente à escola, do lado de fora dos portões, enquanto lá dentro se concentravam outros tantos, que entravam e saíam saltando os muros.
Entretanto, a banda sonora do protesto compunha-se ao som de tambores e cânticos como "ocupa Arroio" ou "gás, petróleo, carvão, deixá-los no chão".
"Neste momento, (os alunos) perceberam que não estavam a ser ouvidos e decidiram fechar a escola. Porquê estarmos a ter aulas por um futuro que não vai existir se estas reivindicações não estão a ser ouvidas?", questionou Alice Gato, para justificar a ação.
Estes estudantes, como os de outras escolas que aderiram ao movimento internacional "End Fossil Occupy!", defendem o fim da exploração dos combustíveis fósseis até 2030, mas pedem também a demissão o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, que em maio afirmou "não ter 'parti pris'" (preconceitos) com projetos de exploração de gás.
Pela direção da escola, o diretor Rui Madeira disse, em declarações aos jornalistas, que está a acompanhar o protesto e, apesar de admitir que os estudantes ultrapassaram "linhas vermelhas" ao bloquearem o acesso á escola, não chamaria as autoridades ao local.
"Não podemos ser coniventes, porque temos um papel institucional a cumprir, mas há uma coisa que é verdade. É que daqui tem de se tirar uma aprendizagem e, mesmo não havendo aulas, espero que aprendam alguma coisa e que, por fim, se consciencializem que há muitos alunos que estão do mesmo lado quando ao fim, apenas contra os meios", afirmou.
O diretor da escola assegurou ainda que a segurança dos alunos era uma prioridade da escola, e por isso a escola apoiou os estudantes que desde segunda-feira ali têm pernoitado, e acrescentou que tenciona desbloquear a situação, mas sem pôr em causa as relações futuras com os estudantes.
"Nós nunca estaremos contra alunos que querem um mundo melhor", disse Rui Madeira, considerando também que se este bloqueio é exemplo único entre as seis escolas e faculdades atualmente ocupadas em Lisboa, "só pode ser porque é a melhor escola".
"É um sítio de liberdade", sublinhou, acrescentando que a escola promove a liberdade para que "as crianças se tornem homens e mulheres do futuro".
Durante o protesto na escola António Arroio, um grupo de cerca de 20 alunos ativistas subiu ao telhado da escola, onde acabou por ficar retido após o diretor decidir cortar os acessos, segundo Alice Gato.
Sob um sol quente pouco habitual no mês de novembro, lideravam os gritos e cânticos reivindicativos, quando mais uma dezena de alunos se juntou a eles, tendo subido através de um escadote colocado junto a uma das paredes do edifício.
Junto ao portão da escola, Matilde Santos, aluna da António Arroio, confirmou as motivações dos ativistas: "A manifestação tinha de escalar, porque não estávamos a ser ouvidos por todos, muito menos por alguns professores. Assim temos a certeza de que somos ouvidos".
Além desta escola, desde segunda-feira que estudantes ocuparam também o Liceu Camões, e as faculdades de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, de Letras e de Ciências da Universidade de Lisboa, e o Instituto Superior Técnico (IST).
Segundo Alice Gato, os protestos mantêm-se nas seis instituições, ainda que em tons diferentes, com uma mobilização mais significativa nas duas escolas secundárias, onde têm dormido, nos últimos dias, várias dezenas de alunos.
No IST, a direção ameaçou chamar as autoridades ao local caso a ocupação se mantivesse, relatou a porta-voz.
"A ideia é ocuparmos até vencermos ou até sermos retirados", concluiu.