Crónicas

“Queres é música…” e estudos da APRAM

1. Disco: Saiu um novo trabalho dos Pixies. Continuam tão bons e ameaçadores como sempre foram, mas mais comedidos e maduros. “Doggerel” foi envelhecido em cascos de carvalho. É um disco revelador da pujança da banda, que, apesar dos anos, recusa-se a condescender.

2. Livro: Andava ali para ser lido já há uns meses. “O Fenómeno Marcelino da Mata — O Herói, O Vilão e a História”, de Nuno Gonçalo Poças, é um pretexto para se falar de muita coisa. Personagem polémico, é impossível ficar indiferente ao mais medalhado militar português. Não vou emitir juízos de valor sobre tão controversa personagem, até porque muito mais haveria que saber, uma vez que, como o próprio autor escreve, a intenção é a de abrir o debate e não fechá-lo. E esse propósito é bem conseguido.

3. Começo por pedir um favor: se se sentirem confusos, esforcem-se para ir até ao fim deste ponto. Estas coisas nem sempre são o que parecem e é como as cerejas, puxa-se uma e vêm umas quantas agarradas.

Quando o Governo, via fundos comunitários, arranja 1 milhão e 200 mil euros para um estudo de exequibilidade de abastecimento de energia eléctrica a navios (fomos ver e um estudo desses nos países desenvolvidos da Europa custa entre 50 e 60.000 euros), destina-se para uma Casa da Música o único espaço onde é possível construir uma subestação com capacidade para alimentar os navios, sem afectar a operação portuária [esta dica vai de borla e sem precisar de qualquer estudo]. Isto faz sentido?

Quando em 2020, 98% dos navios operavam a combustíveis fósseis convencionais, e 76% das novas construções de navios de cruzeiro encomendadas incluíam propulsão por combustíveis fósseis, não é possível ponderar eliminar o sistema de abastecimento de combustível no Porto do Funchal, constituído pelo parque de tanques e o “pipeline”, antes de 2045. Se considerarmos uma vida útil de 20 anos para os navios, em 2040 pelo menos 70% funcionarão a combustíveis fósseis convencionais e têm de ser abastecidos [esta também vai gratuitamente, mas não dou mais nenhuma].

Ainda antes de seguirmos para a Casa da Música, voltemos aos 1,2 milhões de euros para o tal estudo de exequibilidade. No que consegui encontrar, em termos de preços, em países como França, Bélgica, Países Baixos, o corrente é pagar-se o trabalho a 50/60€ por hora. Se o estudo correr durante, por exemplo, porque me parece suficiente, 1000 horas temos os tais 50 000 a 60 000 euros. 1000 horas são 25 semanas de trabalho de um técnico. Abusemos e ponhamos 10 técnicos a trabalhar. Meio milhão de euros seria mais que suficiente. Cheira-me que não vai tardar muito, para arrancar um concurso qualquer para adjudicação de tão apetecível iguaria. Até a mim me apetece concorrer, mesmo sem perceber nada do assunto.

Em São João da Pesqueira, foi anunciado, na passada semana, a requalificação de 11 km de estrada por 1 milhão de euros. Entre nós, 1,2 milhões vão ser gastos num estudo. E já devem ter percebido o quanto gosto de estudos.

O próprio Governo Regional anunciou, na área da energia, um investimento de 15,38 milhões de euros para uma remodelação na Central Hidroeléctrica da Serra de Água, e não acha estranho que se gastem 1,2 milhões de euros num estudo de exequibilidade de abastecimento de energia eléctrica a navios? Um estudo? 1,2 milhões de euros?

Não vos cheira a esturro?

Voltemos, então, à Casa da Música que não passa de uma espécie de troca, uma oferta ao Secretário do Turismo, Eduardo de Jesus, por lhe tirarem o brinquedo que seria o Museu de automóveis antigos, que queria construir em frente à lota. Fique bem claro que não tenho nada contra a sua existência. Acho mesmo que o Funchal precisa de uma sala modular de espectáculos. O que me faz espécie é a localização e o momento. Podiam falar com o Eng. Pedro Macedo Camacho que tem uma ideia fantástica sobre o assunto numa localização fabulosa. E já o divulgou há uns anos.

Faz sentido uma casa da música num local caracterizado por maus cheiros — existe uma ETAR a poente do local escolhido que empesta aquela zona com um cheiro nauseabundo —, humidade — há uma nascente no subsolo do local escolhido —, vibrações — um túnel rodoviário fica adjacente ao local —, um posto de atracação de navios Ro-Ro — ruídos constantes da rampa e de movimento automóvel —, uma lota — geradora de movimentos de embarcações de pesca, ruídos provocados pelas máquinas de gelo e cheiros intensos a peixe —, eventos de massas frequentes — cortejos carnavalescos, Festa da Flor, competições desportivas, competições motorizadas —, transporte, carregamento e utilização de materiais pirotécnicos, dificuldade de acessos de emergência em situações de catástrofe, barcos a entrar e a sair do porto e o ruído que isso provoca?

Não, não faz sentido nenhum. Isto é só mais uma coisa anunciada que não tem pés, nem cabeça. Há eleições para o ano e é preciso largar o engodo para enganar os tolos de sempre: nós.

4. Andava eu nas minhas deambulações, à procura do PDM do Funchal para rever umas coisas, quando dei de caras com uma notícia de 15 de Setembro de 2021, em que Pedro Calado defendia a revisão imediata do PDM. Porque pensei que me devia ter falhado qualquer coisa, fui ver o significado de imediato no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Reza assim: junto, contíguo; que não tem outro de permeio; que se segue (sem intervalo no tempo ou no espaço). Para certas pessoas, uma coisa é o que se diz em campanha e outra coisa é outra coisa. E, entretanto, passou-se praticamente um ano.

Depois de lido o PDM, fiquei esclarecido sobre a não impossibilidade de o LIDL abrir uma das suas unidades no quarteirão do Blandy, na Cruz Vermelha; após ter ido ver se os edifícios eram classificados, classificação que não encontrei em lado nenhum, deparei-me com outra notícia, de 27 de Maio deste ano, que dava conta da “possibilidade dos prédios crescerem em altura” depois do PDM ser revisto, Pedro Calado “dixit”.

Cheira-me que, mais dia, menos dia, o autor do famigerado Plano de Urbanização do Infante vai sair-se com outro, agora para o quarteirão do Blandy no Largo da Cruz Vermelha, com umas faixas tipo a de Gaza, como fez com o lote onde está o prédio construído por Cristiano Ronaldo.

Sr. Presidente da Câmara do Funchal, “eu sei que você sabe que eu sei que você sabe”. Certo?

5. Na Madeira as laranjas são cor-de-rosa e as rosas são cor de laranja. Tudo espremido dá muito pouco sumo.

6. O que uniu a Europa, o que presidiu ao percurso comum que fizemos até aqui, foi o carvão, a energia. Querem ver agora que o que nos dividirá será essa mesma energia? O carvão uniu-nos, será o gás que vai acabar com isso?

7. Guia para PZP’s e os seus correligionários, sobre atrocidades:

1. Isso nunca aconteceu;

2. Eram nazis e mereciam o que não aconteceu;

3. Exibição da NATO/Soros/Ucrânia;

4. O que não aconteceu com os nazis ucranianos, e que o mereciam, foram actores que o encenaram ou foi um biolaboratório americano;

5. E o Iraque? E o Kosovo?

6. Voltar ao 1.”

Darth Putin

8. Vejo uns preocupados com o resultado de Lula nas eleições brasileiras. Outros preocupados com o resultado de Bolsonaro.

O que me preocupa é o facto de 91,63% dos brasileiros terem votado em candidatos populistas.