A derradeira marcha
E aqui vamos nós, juntos, pela última vez, marchando desordenadamente e com dificuldades acrescidas agora, passados que estão 47 anos do regresso de Angola. É a marcha da vida, é a derradeira marcha. Com o avançar do tempo, para trás ficaram, em modo civil, anos de contínua luta, durante a qual muitos dos que regressaram já nos deixaram, em consequência das várias fatalidades da vida. Mas, e apesar de tudo, enquanto a luta continua, vamos trilhando o nosso próprio caminho até ao destino final. E aqui vamos, na nossa caminhada, sob o olhar indiferente dos que nunca quiseram fazer a diferença. Refiro-me aos sucessivos governos da República pós 25 de Abril, que nunca foram capazes de terem a coragem em assumir, na base de um reconhecimento lógico de uma justiça de enquadramento social, para com os – outrora - jovens deste país, empurrados que foram pelo Estado Novo para a uma guerra colonial perfeitamente absurda e desnecessária. Coincidência ou não, em 1974 ouvia-se na rádio o cantor Paulo de Carvalho na sua participação para o Festival da Eurovisão, com a canção: E Depois do Adeus. Lembram-se?
“Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci…”
A verdade é que, com a Revolução de Abril, muitos destes jovens puderam finalmente regressar, mas, muitos destes com graves problemas físicos e psicológicos, dos quais, alguns ficaram entregues a si próprios e às suas famílias como se nada tivesse acontecido, durante um período compreendido entre o dia 04 de Fev. de 1961 e o 25 de Abril de 1974 e que se pautou por uma guerra de guerrilha no Ultramar Português. Foi tempo suficiente para que, só em Angola, ter sido possível contabilizar cerca de 6000 (seis mil) mortos. Hoje, resta-nos prosseguir, e garantir que os nossos filhos, netos e demais família, sejam verdadeiros testemunhos de histórias vividas de outros tempos. Este ano, e pela 9ª vez consecutiva, um grupo de antigos combatentes do Batalhão 4911/74, amigos e familiares, irão se juntar em homenagem aos que pereceram e a todos os ex-combatentes sem excessão, através da realização de uma missa na Sé Catedral pelas 11:00h, seguido de um almoço convívio no próximo dia 29 do corrente. Desta forma, e uma vez mais, vamos celebrar o regresso a casa, o que efetivamente aconteceu em Out. de 1975. Bem hajam.
Vicente Sousa