Ruídos, posicionamento, planeamento e estratégia
Em Setembro, escrevi nesta coluna com o título AUTONOMIA.
Não tinha pensado voltar ao tema, mas, no dia 24 de Julho um Domingo, vinha no meu carro no Porto Santo, com o rádio ligado e eis que ao procurar uma “emissora com música melhor”, entra-me pelo carro dentro uma gritaria enorme e pelo conteúdo e posicionamento, encontrei “o assunto” para cumprir com o meu compromisso para o mês de Outubro, visto que costumo escrever com alguma antecedência, para evitar o stress de cumprimento do prazo.
Trocando por miúdos, tratava-se da transmissão da Festa do Chão da Lagoa e o falante que “gritava”, nesse momento, era um militante, que depois pelos comentários do jornalista Ricardo Oliveira, percebi ser da Juventude Social Democrata e que, pelo pouco que consegui captar, pretendia abordar a Autonomia.
Se a intenção era passar uma mensagem, confesso humildemente, que para ouvintes com as minhas características, foi muito pouco o que percebi, porque o assunto, até, me interessava.
Envergonhado, permito-me dizer o que retive depois de alguns minutos:
• Forte gritaria
• Uma postura agressiva, do tipo - “agarrem-me senão vou-me a eles”...
• Tratamento dos portugueses por “tipos”
• E no final “Viva a Madeira”
Desculpem a minha franqueza, mas, é pouco. Mesmo para alguém interessado, como tive o cuidado, de logo à partida assumir, é muito pouco!
Isto, não é mais do que uma constatação sincera, o que se chama em termos empresariais o feedback do cliente..., e já agora o meu “potencial como cliente”, sei bem, que não será por muitos anos, mas, parafraseando os políticos profissionais ...”por um voto se ganha, por um voto se perde”...!
Porque acredito na força, na coragem e na capacidade de sonhar da nossa juventude, ao falar de Autonomia, sinceramente, esperava mais.
Mas, para não fazer o papel do treinador de bancada que, “só critica”, deixem-me dizer o que esperaria de um Líder da Juventude, irreverente e disruptivo, seria o apontar um caminho com um planeamento articulado e uma estratégia. Um, porque poderão haver outros.
Isto porque:
1 - O aumento e conquista de mais Autonomia, terá sempre, de ser negociado e isso não se consegue com crispação e ruído.
2 - Quem quer negociar tem de ter PODER E CREDIBILIDADE.
É que num processo de negociação, existem importantes elementos fundamentais, que estão relacionados com as técnicas e as tácticas utilizadas, mas, é importante que não nos esqueçamos, nunca, que há 3 variáveis básicas: - Informação, Tempo e Poder e que ninguém negoceia sozinho…
Teríamos então, como projecto:
• Definição, estudo e actualização do modelo de Autonomia que pretendemos. Depois de décadas de funcionamento, há que ver os ajustamentos necessários, as correcções que são exigidas e essencialmente ter a humildade de analisar onde falhámos; sem dúvida, que o processo tem entropias e dificuldades de lá para cá, mas é fundamental assumirmos as de cá para lá.
• Concurso internacional para escolher os parceiros, mais competentes e credíveis para encontrar os melhores caminhos que nos garantam autonomia e até se possível, independência financeira, porque esta é sem dúvida, a base para qualquer ideia ou projecto de mais Autonomia.
• Internamente desencadear um processo que envolva todas as forças vivas e políticas da Região para “comprarem” e se envolverem no sucesso do objectivo e missão. Um por todos e todos por um!
• Quando o processo se encontrar devidamente “oleado”, fazer a internacionalização do mesmo em fóruns internacionais, utilizando todos os meios, desde digitais a gabinetes de Lobbying, passando por Conferências, Seminários, eventual Congresso e reuniões ao mais alto nível.
• Aqui chegados, desencadear negociações com a República para atingir o que nos propusemos, mas, numa posição de poder que nos permita estar num patamar de igualdade e interesse para negociar de forma firme e vantajosa.
A minha especialidade na tropa foi Operações Especiais, vulgo RANGERS, por isso quando nos íamos a eles, era sem gritaria, mas, ao contrário do que possa parecer, bastante bem preparados e normalmente com 2 cenários na cabeça:
- O primeiro “resolver o assunto” e o segundo “resolver o assunto”!
A sério, como convém, quando se tratam de assuntos sérios, porque seja para jovens ou grandes, normalmente o caminho é o mesmo.
P.S. - Abordando um modelo de Autonomia que, obviamente, não incluiria um representante da República, apraz-me dizer isto, por imperativo da minha consciência:
- Normalmente e em determinados cargos, quem os ocupa, ganha prestígio. O lugar de Ministro da República, aqui na Madeira, hoje, o que se verifica é exactamente o contrário; pela forma serena, competente e respeitável como tem ocupado o lugar o Senhor Dr. Ireneu Cabral Barreto tem emprestado uma dignidade e categoria, que o lugar não teria.
Um Senhor!
A minha Gratidão!
Entretanto, assisti à visita do Presidente da Assembleia da República e a toda a envolvência e “diplomacia”, que a mesma provocou e suscitou. Foi oportuna e exigiu trabalho e competência das principais figuras da Região.
Do meu ponto de vista, faz parte do processo.
Não nos iludamos há que congregar “boas vontades” e aliados, mas, sem esquecer que os problemas de fundo a ultrapassar, são o preconceito e as mentalidades.
O nosso desígnio é com inteligência e de forma sagaz, nos colocarmos no patamar que “o melhor mesmo” é negociar, não por condescendência, mas porque é determinante para o futuro da Região e do País.
Quando as cabeças tontas e preconceituosas perguntarem… “mas, já chegámos à Madeira?”… - além de ficarem a falar sós, descobrirão que já!!!