Reformados protestam contra fracas reformas e "rebuçado pouco doce" do Governo da República
Mais de uma centena de reformados idosos concentraram-se hoje frente ao Ministério do Trabalho, em Lisboa, para lutar contra aumentos insuficientes e para o que consideram ser "um rebuçado pouco doce" que é o adiantamento de meia reforma em outubro.
Esta ação, realizada em várias cidades do país, foi promovida pela MURPIU - Confederação Nacional de Reformados, Pensionistas e Idosos - e apoiada por várias associações e pela CGTP, teve como objetivo demonstrar ao Governo e ao parlamento que "os aumentos das reformas este ano são manifestamente insuficientes perante um galopante aumento dos preços de bens e serviços essenciais" e, sobretudo, da inflação.
A presidente da direção da MURPIU, Isabel Gomes, disse à agência Lusa que esta manifestação e concentração em frente ao Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, na Praça de Londres, tem como exigência a reposição do "poder de compra dos reformados, porque a subida de preços é galopante".
"Não vale a pena dizermos que precisamos mais 10 ou 20 euros porque aquilo que queremos, de facto, é que reponham o poder de compra, o que quer dizer que as coisas não podem continuar a subir, a subir, a subir", afirmou Isabel Gomes, perante uma plateia que envergava a bandeira da confederação, faixas e cartazes de protesto.
"No tempo da 'troika' tivemos que prescindir do nosso subsídio de Natal e de alguma verba para repor alguma igualdade naquela circunstância. Aquilo por que lutamos agora é que seja ao contrário, que os grandes grupos possam dividir com aqueles que mais precisam", destacou a dirigente.
Sobre a decisão do Governo, aprovada em Conselho de Ministros, de adiantar metade da pensão de reforma em outubro, Isabel Gomes respondeu à Lusa que "é um rebuçado muito pouco doce".
"De facto, eles dão agora, e dá jeito, não vou dizer que não dá jeito receber metade da pensão a mais este mês, mas, agora quando chegar a dezembro, em lugar de termos a verba correspondente a um aumento normal, que seria de cerca de oito por cento, vamos ter apenas quatro por cento e isto vai gerar todos os anos prejuízos se eventualmente a lei não for alterada", que em sua opinião é o que o Governo se prepara para fazer.
Segundo Isabel Gomes, "aquilo que propõem é uma alteração da lei" e critica o primeiro-ministro, António Costa, por ter prometido que a lei das pensões não seria alterada e agora alegadamente se preparar para fazer o contrário.
"Se não houvesse, quando se chegasse a janeiro os reformados teriam oito por cento. Com este rebuçado pouco doce, vamos ter quatro, três e meio, e, portanto, não melhorámos nada. Pelo contrário, quando chegarmos ao fim do ano volta a haver o mesmo problema", vincou, destacando também os problemas no Serviço Nacional de Saúde.
A MURPIU e os seus apoiantes elaboraram uma petição para entregar na Assembleia Da República a denunciar esta situação aos deputados e a pedir soluções e alterações viáveis, num documento que "já conta com cerca de cinco mil assinaturas", mas que pretende "alcançar as sete mil e quinhentas".
Questionada sobre a adesão desta iniciativa descentralizada de protesto, Isabel Gomes respondeu que os resultados foram bons em alguns locais, com o Setúbal, com 250 pessoas, e "um bocadinho mais pequenos" em outros locais do país, mas que não contavam ter grandes manifestações.
"Se quiséssemos fazer uma grande manifestação teríamos deslocado toda a gente para Lisboa. Hoje é difícil trazer as pessoas à rua e darem a cara. Todos os que vieram para a rua estão prontos a dar a cara e é isso que nós queremos", destacou.
Por entre slogans como "a luta continua" e empunhando cartazes com dizeres "Basta, a vida dos reformados a piorar e a especulação e os lucros a aumentar", "Por um envelhecimento com qualidade de vida e bem-estar" ou "As pensões a minguar, repor o poder de compra em 2022, não aos cortes em 2023, foram vários os interlocutores durante a manifestação.
Entre eles, a terminar, José Núncio, da MURPIU lançou a questão: "que raio de Governo é este que quando a lei protege os mais desfavorecidos quer mudar a lei".