ONG russa diz que prémio Nobel dá "força moral" em "tempos deprimentes"
A organização não governamenal (ONG) russa Memorial disse hoje que vencer o Prémio Nobel da Paz é uma "honra" e que o reconhecimento dá "força moral", em "tempos deprimentes".
O Comité Nobel Norueguês anunciou hoje que, além da Memorial, uma organização de defesa dos direitos humanos russa, também outra instituição do género, o Centro para as Liberdades Civis, da Ucrânia, e o ativista bielorrusso Ales Bialiatski foram distinguidos com o Prémio Nobel da Paz 2022.
"Este prémio dá força moral (...) a todos os ativistas russos de direitos humanos", disse o presidente do Memorial, Ian Ratchinski, ao deixar um tribunal de Moscovo, após mais uma sessão de um julgamento contra esta ONG.
"Estar ao lado de outros compatriotas, como (Andrei) Sakharov, (Mikhail) Gorbachov e Dmitry Muratov, é muito importante, quando estamos a atravessar tempos deprimentes", explicou o ativista, citando anteriores vencedores de prémios Nobel da Paz russos.
"Não devemos esquecer aqueles que estão na prisão", acrescentou Ratchinski, referindo-se aos ativistas que estão presos Alexei Navalny e Ilia Yachine, duas figuras da oposição russa.
Oleg Orlov, uma figura histórica da Memorial, disse ainda que é uma "honra" ter recebido o prémio juntamente com um ativista bielorrusso e um centro ucraniano.
"Estamos sob pressão. E eles estão sob fogo do nosso próprio exército", observou Orlov.
Em sentido contrário, Valeri Fadeev, presidente do Conselho Russo de Direitos Humanos, dependente do Kremlin, recomendou hoje à organização Memorial, proibida pela justiça russa, que recuse o Prémio Nobel da Paz, alegando que este ficou "desacreditado" ao premiar organizações da Rússia, Ucrânia e Bielorrússia.
"Gostaria de aconselhar a Memorial a recusar este prémio para preservar pelo menos uma partícula de boa memória sobre si mesma", disse Fadeev, citado pela agência noticiosa oficial TASS.
A Memorial passou os últimos 30 anos a investigar a repressão política do regime soviético até 1991, bem como a denunciar abusos de direitos humanos na Rússia desde a queda da URSS.
Em dezembro de 2021, os tribunais russos proibiram a organização, por criar uma "imagem falsa da União Soviética como um Estado terrorista" e por ocultar de forma deliberada informações o seu papel de agente estrangeiro, bem como por "justificar o extremismo e o terrorismo".
Fadeev considera que o Prémio Nobel "deixou de ser importante e deixou de ser um prémio da paz, ficando desacreditado com a sua decisão de hoje".
O líder russo interrogou ainda onde estava o Centro Ucraniano para as Liberdades Civis nos últimos oito anos "quando o Donbass foi bombardeado, quando milhares de civis, crianças e idosos foram mortos".
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,6 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.114 civis mortos e 9.132 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.