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Psicologia, pobreza e mentalidade de escassez

Sendhil Mullhainathan e Eldar Safir sugeriram que nos comportamos de forma diferente quando percecionamos que algum recurso importante da nossa vida (dinheiro, tempo, comida, etc.) se torna raro, sucumbindo a uma “mentalidade de escassez”, sensação subjetiva de que temos mais necessidades do que recursos, e que limita a nossa capacidade cognitiva de tomar decisões.

A memória, atenção e concentração, são recursos limitados e mutáveis e, como um cabo de fibra ótica, têm uma largura de banda finita, capazes de processar uma quantidade determinada de informação em simultâneo, o que permite ser adaptativo e eficiente em respostas a curto prazo, mas problemático quando se torna numa dinâmica persistente na nossa vida.

Investigações recentes indicam que viver numa situação de pobreza significa viver em mentalidade de escassez crónica, com múltiplos desafios diários e urgentes, e com maiores níveis de stress para garantir necessidades básicas, comprometendo-se o investimento noutras áreas da vida que implicam disponibilidade, pensar a longo prazo, planear, e dispor da tranquilidade de contemplar perspetivas.

Implica também efeitos emocionais e motivacionais que pesam no comportamento das pessoas, associados a sentimentos de infelicidade e desconfiança dos outros e das instituições, que conduzem ao foco no futuro a curto prazo, à impulsividade na tomada de decisões, à escolha de recompensas imediatas e a menor controlo de gastos financeiros.

Assim, a possibilidade de realizar uma má escolha ou de cometer erros é maior.

Em Portugal, um dos países desenvolvidos onde é mais difícil sair de uma situação de pobreza (pode levar até 5 gerações), 1 em cada 5 portugueses vive em situação de pobreza ou de exclusão social (abaixo de 540€ de rendimento); 381 mil das quais são pessoas acima dos 65 anos e 60% destas pessoas apresentaram rendimento abaixo da linha de pobreza em pelo menos 2 dos 3 anos anteriores.

A pobreza não resulta de uma falha caracteriológica do indivíduo, mas de condicionamentos sociais, ambientais e económicos que obrigam à sobrevivência crónica, podendo conduzir a maior vulnerabilidade e exclusão social e, consequentemente, a problemas de saúde psicológica, que agravam o risco de pobreza ao longo da vida. Um estudo americano concluiu que a probabilidade de uma pessoa experienciar uma situação de pobreza durante pelo menos um ano, dos 25 aos 60 anos, é de cerca de 60%, pelo que muitos de nós podemos cair neste espectro.

As causas e soluções para a pobreza não se devem focar meramente na responsabilidade individual e na diligência dos indivíduos, sob o risco de negligenciarmos severamente a complexidade das dinâmicas deste fenómeno e de impor maior marginalização e estereotipagem. Pelo contrário, as políticas públicas devem considerar os vários determinantes socioeconómicos da condição de pobreza e a articulação eficiente e inclusiva entre setores como a educação, emprego, saúde, segurança social, prevenindo a ruptura na coesão social, famílias e comunidades e potenciando o recurso mais importante que as sociedades dispõem para prosperarem: as pessoas.