Palhaçadas e caldeiradas
A minha pergunta mantém-se: alguém avalia as capacidades dos psicólogos das Forças Armadas?
Gostava de saber quanto custou à Força Aérea Portuguesa uma palhaçada para promover um dia de visitas a uma Base Aérea. Assim, por curiosidade, adorava saber quem foi a cabecinha pensadora que se lembrou de hipotecar um helicóptero que tem custos por hora demoníacos, para entrar num vídeo, ficar estático num determinado enquadramento e a tripulação, que desconhecia ao que ia, ver um palhaço fardado com o fato de voo, correr na sua direção. Isto parece o arranque de uma história de Bollywood. Mas foi a triste forma como a Força Aérea resolveu, recentemente, promover uma visita dos mais novos a uma instalação sua, ou seja, nossa. Queimando nos três motores Rolls Royce do EH101 “Merlin”, que nesta humilde terra vemos usar para salvar vidas, milhares de euros numa operação autorizada por alguém. Se não foi, as coisas estão piores do que eu pensava. Passou no país todo, nas redes sociais oficiais da Força Aérea.
Estou ligada desde a primeira hora, em 2018, à iniciativa “Alista-te por um dia”, iniciada na Madeira pelo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas e pelo Governo Regional, como projeto-piloto e replicada depois no resto do país. Nem numa sala de aulas, em ambiente interno, mostrava um palhaço com fato de voo aos alunos do 4º ano, mesmo que me obrigassem. Há coisas sagradas e as fardas que se envergam deviam ser uma delas.
Ainda não me tinha refeito da outra palhaçada e vejo uns tipos sem farda dentro de panelas industriais. Pareciam o João Ratão no caldeirão. Aconteceu no Exército. Parece que ninguém faz testes psicotécnicos aos psicólogos, porque eles deixam entrar nos quartéis gente desqualificada, ou como diz o Ricardo Araújo Pereira, a gozar com quem trabalha. Que critérios se usam, neste momento, para escolher as pessoas da logística, que, por exemplo, vão dar de comer a quem enverga as fardas com brio e orgulho? Só espero que os palhaços que usaram terrinas na cabeça e sorriram para a foto tenham feito a depilação total, pois nem quero pensar no Comando que encontrar uma coisa estranha na sopa e for com o indicador e o polegar em forma de pinça à ponta da língua para descobrir o “pelinho”. Não se pode dizer que aquelas estrelas de Bollywood não sabiam que estavam a ser fotografadas, porque todas sem exceção estavam a olhar para a lente, o que mostra as intenções de cada um. A minha pergunta mantém-se: alguém avalia as capacidades dos psicólogos das Forças Armadas? Alguém os reavalia sistematicamente, como é feito às tripulações, pois ninguém mantém as mesmas faculdades toda a vida? É que, um dia destes, vão tentar convencer-me que estes são iguais aos militares das Forças Nacionais Destacadas, que todos os dias se arriscam a levar um balázio, enquanto outros brincam.