PM britânica admite mais "perturbação" causada por reformas para estimular economia
A primeira-ministra britânica, Liz Truss, admitiu hoje a possibilidade de mais "perturbação" nos mercados financeiros à medida que introduzir medidas e reformas para estimular o crescimento económico.
Num discurso de encerramento do congresso anual do Partido Conservador em Birmingham, que começou no domingo, Truss reconheceu existir alguma oposição às suas ideias, mas defendeu a necessidade de acabar com a "deriva e atraso" nas reformas.
"Precisamos de fazer as coisas de forma diferente. Como se viu nas últimas semanas, será difícil. Sempre que há mudança, há perturbação. Nem todos serão a favor. Mas todos irão beneficiar do resultado -- uma economia em crescimento e um futuro melhor. É para conseguir isso que temos um plano claro", afirmou.
Segundo Truss, o Governo tem de deixar de se preocupar com a redistribuição dos rendimentos e focar-se focar mais em fazer crescer a economia, pois entende que desta forma todos vão beneficiar.
'Durante demasiado tempo, o debate político tem sido dominado pela forma como distribuímos um bolo económico limitado. Em vez disso, precisamos de fazer crescer o bolo para que todos recebam uma fatia maior. É por isso que estou determinada a adotar uma nova abordagem e a tirar-nos deste ciclo de impostos elevados e de baixo crescimento", afirmou.
"É este o nosso plano: fazer crescer a nossa economia e reconstruir o Reino Unido através de reformas. (...) Sempre que há mudança, há perturbação", vincou.
Ainda assim, prometeu manter sob controlo as contas públicas, gastando o dinheiro dos contribuintes de forma eficiente e reduzindo os custos públicos.
O discurso foi interrompido por um protesto de duas ativistas da organização ambientalista Greenpeace, que Truss sugeriu fazerem parte daquilo que chama "coligação anti-crescimento".
Mas, além da oposição, ambientalistas ou sindicatos, Liz Truss também é motivo de críticas entre os 'tories'.
Embora tenha sido eleita líder Conservadora e primeira-ministra há apenas um mês, na imprensa britânica já se questiona quanto tempo será capaz de sobreviver no cargo.
O descontentamento dentro do próprio grupo parlamentar já forçou Truss a recuar na abolição do escalão mais alto (45%) do imposto sobre os contribuintes e agora existe dissensão interna se decidir não atualizar os apoios sociais de acordo com a taxa de inflação (9,9% em agosto).
A antiga ministra do Trabalho e Pensões, Esther McVey, disse que os planos de cortar os subsídios em termos reais seriam um "enorme erro" e até a líder da Câmara dos Comuns, Penny Mordaunt, membro do Governo, disse que "faz sentido" que o subsídio de subsistência (Universal Credit) continue a estar ligado à inflação.
Muitos membros do partido ainda estão irritados com a turbulência causada pelo "mini-orçamento" de 23 de setembro que fez desvalorizar a libra e subir os juros da dívida pública, o que obrigou a uma intervenção do Banco de Inglaterra.
Além de um pacote para congelar os preços da energia para pessoas e empresas, o plano incluiu cortes fiscais estimados em 43.000 milhões de libras (49.000 milhões de euros no câmbio atual) que serão pagos com dívida pública, mas sem detalhes sobre como esta será reduzida no futuro.
Embora o valor da libra tenha recuperado e a situação estabilizado, os mercados financeiros continuam a antecipar uma subida acentuada das taxas de juro que terá impacto em questões como o crédito à habitação, complicando a crise do aumento de custo de vida.
A incerteza criada nos últimos dias agravou a queda da popularidade do Partido Conservador nas sondagens para uma média de 25 pontos percentuais atrás do Partido Trabalhista, na oposição desde 2010, de acordo com o politólogo John Curtice.
"Poderá Liz Truss sobreviver?", questionou o antigo editor político da BBC Andrew Marr na revista 'The New Statesman', acrescentando que "a implacável máquina conservadora pode ejetá-la se não houver melhorias".