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O tempo e a próxima geração

Talvez nenhum outro fator tenha contribuído tanto para a nossa mudança de perceção do tempo como estas duas premissas: a conectividade e a mobilidade.

A conetividade fez com que passássemos a estar ligados aos outros, mesmo quando eles se encontram do outro lado do Mundo. Estarmos conectados “always on” fez-nos ficar mais informados, mais próximos e, podendo fazer mais coisas em uma hora, um dia ou numa semana, tornou também mais acelerado o tempo das nossas vidas. Na realidade o tempo é o mesmo de há 30 anos atrás, por exemplo, mas a nossa perceção do mesmo é que foi mudando.

Hoje conseguimos, porque estamos cada vez mais conectados à rede, a pessoas e a máquinas, obter e fazer mais coisas em menos tempo. Tornámo-nos por isso mais impacientes, ou pelo menos com mais resistência ao tempo de espera de qualquer coisa.

A mobilidade fez, por outro lado, com que possamos estar física ou virtualmente em mais locais e realidades ao mesmo tempo e durante a nossa vida, de forma muito diferente do passado. Um Mundo com mais ligações reais e virtuais parece ter tornado o planeta Terra mais pequeno, mais “aqui à mão”. Também por causa da mobilidade hoje, no smartphone que levamos no bolso ou na carteira, reside uma parte cada vez mais considerável da nossa vida.

Aqui chegados, é fácil compreender que as gerações mais novas, que já nasceram e estão a crescer, tenham uma menor capacidade de espera e uma impaciência que é nativa. Quantos de nós já não ouviram dos nossos filhos, quando estamos a meio de uma tarefa ou à espera de algo: “pai demora muito?... que seca!”. Uma geração em que tudo funciona online e à distância, uma geração que consegue muito do que precisa com um simples “touch screen” e que se move com muita facilidade, não tem a mesma tolerância para um tempo de espera na vida. E move-se também para objetivos maiores e mais rápidos. Se toda a vida houve um “generation gap” (conflito de gerações), ele hoje é muito tecnológico, mesmo que na minha opinião pessoal os contributos do desenvolvimento tecnológico sejam muito superiores a qualquer movimento crítico aos mesmos.

E a próxima geração? Qual será a velocidade a que se movimentarão aqueles que estão a nascer agora? O planeta continua a rodar à mesma velocidade de antes, mas nós que o habitamos mudámos o tempo das nossas vidas.