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O valor de partilhar Valores

Quanto maior o desafio, mais a União se aproxima, mais solidária se torna

Na última década a Europa tem sido confrontada com um conjunto de desafios que afetaram a sua unidade, a sua confiança e os valores humanistas, solidários e democráticos que nos caracterizam e sobre os quais estão fundamentados os alicerces da União Europeia.

Há cerca de dez anos vivíamos uma crise económica global que arrastou Portugal para um período de ajustamento difícil e longo que deixou feridas profundas no país, que muito custaram a sarar. Feridas económicas e sociais que exigiu de todos nós um esforço tremendo de recuperação dos indicadores de rendimentos, crescimento e emprego. Nesse momento todos recordamos as diferenças que então se relatavam existir no seio da União Europeia, patentes nas reuniões entre os Estados-Membros, em particular no Ecofin, responsável pela política económica e questões fiscais, e onde se reúnem os ministros da Economia e das Finanças. Questionava-se a solidariedade dos países do norte para com os países do sul, a braços com uma crise que delapidava as finanças públicas e os rendimentos das populações.

Um sentimento de uma divisão latente que viu outros episódios posteriores, como a crise migratória de 2015 onde as diferentes na resposta de cada país também ficaram patentes.

Mas a União soube prevalecer e, anos depois, perante a maior ameaça sanitária que o Mundo viu em 100 anos, com uma pandemia devastadora, a Europa aproximou-se. No combate e resposta, com a compra conjunta de vacinas, e na recuperação, de forma determinante com a imediata alocação de verbas para a recuperação das economias depois de confinamentos obrigatórios e um stand-by à normal atividade económica.

E se durante o Covid soube unir-se, agora cerrou fileiras com uma resposta unida e determinada à invasão da Ucrânia pela Rússia e à guerra. A maior ameaça à defesa da Europa desde a segunda guerra mundial. E fê-lo com o resoluto apoio à Ucrânia, à sua soberania e integridade territorial, bem como ao seu direito de legítima defesa em face da agressão.

Quanto maior o desafio, mais a União se aproxima, mais solidária se torna. Quanto maior a ameaça, mais alto se erguem os valores constituintes da arquitetura de unidade Europeia nascida do pós-guerra.

E o momento que atravessamos exige União e Valores. Com uma inflação galopante, a subida das taxas de juro, o aumento do custo de vida e do custo da energia, os Estados-Membros preparam-se para as implicações sociais daí decorrentes. Como na crise anterior, há países mais e menos suscetíveis à crise, com velocidades e valores de contração diferentes.

Bem sabemos das fragilidades económicas de Portugal, mas também sabemos do bom trabalho que tem sido feito nos últimos anos para preparar o país a ser mais resiliente, com menor dependência energética do exterior, com finanças públicas mais sólidas e uma maior coesão social.

Esses avanços ficam claros nos avanços que o país tem feito em termos energéticos. Portugal é amplamente reconhecido pelo bom trabalho feito na transição com a aposta nas energias renováveis que diminui substanciosamente a nossa dependência e, embora exista, uma menor suscetibilidade ao agravamento do preço do gás.

Para termos uma ideia da revolução que assistimos, Portugal é um dos países do mundo que mais recorre às energias renováveis. Em 2021, abasteceram 59% do consumo de eletricidade consumida em Portugal.

Mas a crise que vivemos não se limita ao custo da energia, estendendo-se a toda a economia com implicações no orçamento das famílias e no seu quotidiano. Neste campo, o Governo Português tem desenvolvido esforços para conter os custos da inflação com uma resposta célere e contundente com apoios extraordinários às famílias e em particular a quem é mais suscetível com o aumento dos preços.

A forma como cada país está a tentar ultrapassar as dificuldades internamente face a um contexto externo muito desafiante não isenta o papel da União Europeia, muito pelo contrário. O valor da Europa reside na sua unidade, na forma como os países sabem confrontar os problemas com solidariedade de todos. E Portugal ganha com uma Europa unida e indivisível. Este será, mais um capítulo onde esperamos observar mais uma prova da unidade Europeia na defesa dos seus cidadãos.

Porque quando falamos de humanismo e democracia tendemos para apelidar e

simplificar de valores europeus. São duas faces da mesma moeda. Hoje, como sempre, cabe a todos os países estar à altura desses valores.