Falta de dados dificulta luta contra "racismo sistémico" na polícia
A falta de dados em muitos países sobre a "raça ou etnia" dos detidos ou mortos pela polícia é um grande obstáculo para combater o "racismo sistémico", refere esta segunda-feira um relatório de especialistas das Nações Unidas.
Existe uma "necessidade crítica de recolher, analisar, usar e publicar dados por raça ou etnia", realçou Yvonne Mokgoro, ex-juíza sul-africana, durante a apresentação deste relatório perante o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.
Nos Estados Unidos, por exemplo, não existe um sistema centralizado de recolha deste tipo de estatísticas, realçou.
Yvonne Mokgoro sublinhou que, embora a recolha de dados não acabe por si só com o racismo, é "um primeiro passo essencial para destacar a extensão do racismo sistémico contra africanos e afrodescendentes e as suas manifestações na polícia e no sistema de justiça".
"É essencial que o racismo sistémico, incluindo nas suas dimensões estruturais e institucionais, se torne visível", realçou.
A ex-juíza sul-africana é a presidente do "Mecanismo Internacional de Peritos Independentes para Promover a Justiça Racial e a Igualdade no Policiamento", que tem outros dois membros.
Este mecanismo foi criado em 2021 pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, após o assassinato nos Estados Unidos de George Floyd, um afro-americano desarmado, por um polícia branco.
Já Collette Flanagan, que fundou a Mães Contra a Brutalidade Policial (MAPB, em inglês) depois do seu filho, Clinton Allen, ter sido morto pela polícia no Texas em 2013, sublinhou ao conselho que o seu caso era emblemático da "atual crise no policiamento nos estados".
O seu filho também estava desarmado, mas o polícia branco que disparou sete vezes, entendeu que Clinton Allen "era uma ameaça" e "escapou da responsabilidade criminal e civil por esta morte", acrescentou.
Num relatório separado divulgado esta segunda-feira, A alta-comissária interina das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Nada al-Nashif, detalhou sete casos recentes de mortes relacionadas com a polícia nos Estados Unidos, França, Brasil, Reino Unido e Colômbia, especificando que em cada um destes casos "as famílias estão sempre à procura da verdade (e) justiça".