Infraestruturas verdes e desenvolvimento
No contexto do desenvolvimento, as últimas décadas do século XX caracterizam-se por um forte investimento na resolução de problemas estruturais que condicionavam a qualidade de vida das pessoas. O Mundo dividia-se, basicamente, em duas tipologias de sociedades. Uma com acessibilidades rodoviárias, portuárias e aeroportuárias, habitação, água, esgotos, energia, recolha e tratamento de resíduos, escolas, equipamentos desportivos e de lazer e, no lado oposto, pouco ou nada disto. Resolvidas as questões básicas associadas a infraestruturas e equipamentos, junta-se educação, formação técnica e profissional e trabalho e as sociedades têm tudo para olhar o futuro com elevado grau de optimismo. Assim seria se não existissem outros elementos a influenciar a equação. E são vários. A geografia e dimensão, para começar, a que se juntam os “passivos” estruturais, educação, competências, capacidade produtiva, cultura, coesão social de base, só para falar em alguns dos elementos intrínsecos de cada sociedade. Se a estes juntarmos factores exógenos como as alterações climáticas ou pandemias (a última das novidades, porque a guerra é um vício muito antigo) e o que implicam em termos de vulnerabilidades, percebemos facilmente que a resiliência requer outros instrumentos e formas de suporte social não limitados a essa dimensão.
Não descurando a capacidade tecnológica, que ajuda a desbravar o conhecimento dos problemas, sejam estruturais sejam emergentes, o certo é que os chamados fenómenos globais não deixam ninguém a salvo. Por muito avançados e robustos que sejam os sistemas socioeconómicos, a verdade é que, cada vez mais, ninguém consegue escapar aos riscos globais. A interdependência e conectividade dos sistemas de produção, distribuição e consumo e a sua natureza global, requerem uma estabilidade e previsibilidade impossíveis. Na melhor das hipóteses, a aposta na redução de vulnerabilidades, acaba por ser o factor sobre o qual existe alguma margem de manobra individual. Daí a relevância crescente de conceitos como a eficiência e economia circular, por limitada que possa ser a sua promoção.
Pouco explorado, por falta de informação e de avaliação efectiva, a condição natural e o reforço das infraestruturas verdes mereceria alguma atenção adicional. A qualidade ambiental geral, associada à natureza, paisagem, biodiversidade e ecossistemas, é um factor determinante para a melhoria das condições socioeconómicas. A qualidade de vida, individual e colectiva beneficia de forma clara e decisiva de um ambiente natural em boas condições. Conservar e utilizar, de forma sustentável, a natureza não é apenas um imperativo ético ou um luxo que se acrescenta ao cabaz básico da existência humana. Precisamos da natureza em quantidade e qualidade adequadas, tal como necessitamos de estradas, habitação e serviços. O novo ciclo de desenvolvimento requer, por isso, uma abordagem clara ao nível das infraestruturas verdes, seja em espaços naturais ou humanizados, rurais ou urbanos, promovendo a requalificação de espaços degradados, o aumento de áreas verdes e a perenidade dos serviços dos ecossistemas que suportam as diferentes atividades humanas. Tal como no final do século passado, é preciso investir, e muito, em infraestruturas, agora verdes, e, com isso, transformar, para melhor, a qualidade de vida das pessoas. As pessoas que já têm casa, escola, estradas, hospitais, aeroportos, merecem, também, ter mais natureza. O défice de infraestruturas verdes limita o desenvolvimento e requer a atenção e investimento, que certamente também promoverá emprego e maior produtividade.