Nunca errei tanto, nunca aprendi tanto
A relação pais-filhos pode ser a mais generativa e espiritual das relações humanas. Para tal, é importante refletirmos juntos, sobre alguns pontos essenciais. Proponho quatro, que geram conexão.
Caminho na jornada da parentalidade há
mais de 15 anos. Neste caminho identifico duas fases
concretas – a que acreditava viver consciente (e afinal, seguia apenas uma check-list) e outra fase, na qual
sei que sou e vivo (mais) consciente (e às vezes, ainda sou apanhada na
‘esquina’ de alguns comportamentos que manifesto - vale-me a premissa que traz
leveza - não somos o nosso comportamento, ele é sempre o melhor que podemos ter
a cada momento, tem uma intenção positiva e necessidades que querem ser vistas,
acolhidas, integradas e transcendidas... ufa).
Entre uma e outra fase, escolhi fazer uma pausa profissional para vestir a pele
de mãe mais presente (doeu que se fartou!). Nunca errei tanto. Nunca aprendi
tanto. Estudei neurolinguística, neurociência... Foi
assim ao longo de quatro intensos anos. Reuni depois, os
insights que saltaram no
percurso, as pesquisas que fiz com a aplicação destes conhecimentos à
parentalidade, sobretudo em Portugal, Holanda e Estados Unidos. Escrevi livros e
artigos sobre o tema. Criei a
parentalidade generativa, entre outras coisas. Mas hoje, quero
partilhar quatro pontos (que procuro praticar diariamente) e reconheço como
essenciais nesta jornada. Pedem prática, e pedem sobretudo, muito amor, generosidade e presença. É que os
nossos filhos, trazem incorporada aquela capacidade única de espelhar os recônditos
mais sombrios de nós próprios, através dos neurónios espelho e do campo
eletromagnético. Ser mãe, ser pai, nem sempre é fácil, certo? E é nesses momentos que abrando, respiro e observo. A partir daí,
já (re)centrada, estou novamente alinhada com a minha intenção e, em princípio
sei ou tenho uma intuição do que fazer, assumindo novamente responsabilidade
pela nossa relação. E assumir
responsabilidade pela relação é o melhor investimento que encontro no que diz respeito às minhas filhas. É a mesma responsabilidade que dirigiu a minha atenção na relação na relação comigo própria, no meu autoconhecimento, a desaprender padrões de
uma vida, para criar novas
possibilidades. Ou seja, a responsabilidade que me (re)educou. Acredito que só a partir daí estamos aptos a guiar os nossos
filhos. Em consciência. Só assim é possível
amar quando mais custa e é mais
preciso.
4 pontos que conectam
1. Autocuidado – Antes de tudo cuido da minha relação comigo própria. De dentro para fora. Investigo, com curiosidade, quais são as minhas necessidades, intenções e os meus valores. Onde, quando e como se manifestam e como afetam a minha energia. É que quanto mais autoconsciente estou de mim mesma, melhor é a relação que construo com os demais e maior será a minha capacidade de guiar as minhas filhas num crescimento saudável.
2. Aceitação e curiosidade - Relaciono‐me com as minhas filhas como elas são, e não como imaginaria que fossem ou como alguém espera que sejam. A cada momento. Indo além do comportamento. Observando sem julgamento e sem comparar.
3. Encontrar a intenção positiva - Parto sempre do princípio (mesmo quando é desafiante) que as intenções das minhas filhas, tal como as minhas, são positivas. Compreendo que, por vezes, o comportamento não é o adequado, sabendo que existe uma intenção positiva na origem do mesmo e que esse, normalmente, tem a ver com as necessidades que estão a procurar suprir naquele momento. É pois, da minha responsabilidade, ser flexível, co regular e ajudar a transformar a intenção positiva numa ação positiva, naquelas alturas em que elas não o conseguem fazer sozinhas.
4. Acreditar e confiar – Tal como eu, as minhas filhas fazem sempre o melhor que podem e sabem, com os recursos aos quais conseguem aceder. Além disso, nem sempre aquilo que eu penso ser o melhor para elas, é. E isso tem a ver com as expetativas que nutro sobre as suas capacidades. Isto não quer dizer que concorde com todo o tipo de comportamento. Quer dizer que é possível ver mais além, encontrar outras possibilidades e desenhar novas estratégias, mais respeitadoras, para lidar com a pessoa, com espaço para a partilha de todas as emoções, necessidades, pensamentos e opiniões.