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O Saquinha sapateiro

Senhor Manuel Fernandes
era o vizinho sapateiro,
de manhã à noitinha,
trabalhava o ano inteiro.

Desenhava o pé com lápis
na pele de vaca curtida,
que tão bem ele fazia
os sapatos à medida.

Para campo e pra cidade,
seja qual for a medida,
de couro e forte pneu
que duram toda a vida.

Toda a gente ali acorre
à casa do sapateiro,
oficina de alegria
e leva pouco dinheiro.

Férias ele não tinha
como é que podia ter?
Tinha filhos crianças
que esperavam por comer.

O honrado sapateiro,
por Saquinha conhecido,
toda a vida trabalhou,
pelos vizinhos reconhecido

Com toda a gente fala,
permanece ali sentado
no tripé de madeira,
no trabalho concentrado.

Muito outro trabalho fez
com igual mestria,
dedicado e trabalhador
sem ódio e com alegria.

Lá os sapatos provava
quão bem eles ficavam,
para todo lado andava
e nunca se estragavam.

Foi ali que o João,
antes de emigrar,
sapatos mandou fazer
com eles veio a regressar.

No Caminho da Vigia
sapatos pedras pisam
para cima e para baixo,
alma memórias alisam.

O sapateiro da Igreja
também sapatos fazia,
tal como sapateiro da Cruz
cada um com sua mestria.

O sapateiro da Igreja
para santos não trabalhava,
mas para os seus vizinhos
e para quem ali parava.