A (lenta) transição para a energia verde
O petróleo e LNG estão a ficar caros? Não há problema, mudemos para energias verdes. Infelizmente, ainda não chegámos a esse ponto. Porquê? Vamos analisar.
Há várias razões técnicas e financeiras pelas quais não podemos mudar, da noite para a dia, para uma energia 100% limpa num futuro próximo (quanto mais até ao fim da guerra Rússia-Ucrânia).
A primeira questão para uma “grande substituição verde” é que ainda não é tecnicamente viável transitar todos os consumos.
Sim, algum do uso doméstico pode ser eletrificado. No entanto, ainda não existem soluções técnicas para o transporte marítimo e aéreo, quer para carga, quer para passageiros.
Da mesma forma, se todos os veículos unifamiliares mudassem para elétricos, nenhuma rede sustentaria as necessidades adicionais.
Tudo isto sem abordar o aspeto financeiro destas mudanças. Estes fatores são extremamente relevantes para planear qualquer transição.
Normalmente, é nesta altura da conversa que alguém diz que, para salvar o ambiente, “necessitamos de pagar o necessário, independente do que custar”. Expressão fácil de dizer, mas impossível de executar.
As emissões atuais resultam de consumos necessários à população. Se obrigarmos que as vendas de novos carros sejam carros elétricos, o que dizer às famílias que são excluídas da propriedade de viaturas pois a escolha passa a ser mais cara?
Isto sem falarmos que os leitores vivem no Mundo desenvolvido, quando uma parte significativa da poluição provém, ou provirá quando a sua situação económica melhore, de países em desenvolvimento.
Estes países têm que desenvolver redes elétricas que satisfaçam todos os centros habitacionais e têm graves necessidades de novos hospitais e escolas. Obrigá-los a serem “verdes” dificultaria seriamente a satisfação das necessidades básicas da sua população.
Não se pode argumentar que estes países devem fornecer luz, calor e energia básica a partir de energia 100% verde, uma vez que é óbvio não terem condições para tal. A única forma de este desenvolvimento verde ser feito seria os países desenvolvidos cobrirem o diferencial entre energia verde e energia “suja”.
Mas não é provável que tal aconteça na próxima década, uma vez que os países desenvolvidos ainda estão a tornar as suas economias verdes e estão a lidar com inflação elevada e com o advento de uma nova recessão.
Mas não é apenas por razões técnicas e financeiras que estas iniciativas são dificultadas.
As energias verdes para substituir uma porção significativa de petróleo e gás requerem muito espaço físico (para painéis e parques eólicos), elevado investimento e tempo para serem implantadas e os dos países desenvolvidos tentam atingir estes objetivos de forma gradual, com planos e execução a longo prazo.
Este texto não propõe que nos afastemos da necessidade de descarbonização. A ciência é clara e temos de caminhar nessa direção. O que pretendo é contextualizar o quão rapidamente podemos executar essa transição, bem como explicar o porquê de não podermos, simplesmente, mudar para energias verdes da noite para o dia, assim que o preço do petróleo ou LNG ultrapasse um certo valor.