A “Guerra das Urgências”
O penoso percurso político da Ex-ministra da saúde, Marta Temido, terminou este verão com aquilo que ficou conhecido como a “Guerra das Urgências” fechadas em alguns hospitais do SNS. Maioritariamente em hospitais com problemas conhecidos, Lisboa e margem sul, Algarve e Alentejo. Quase exclusivamente na especialidade de Ginecologia e Obstetrícia. Exclusivamente no Verão e no período festivo. Acima de tudo, foi um exercício supremo de inabilidade política que levou à sua demissão.
Aparentemente, assim que mudou a ministra, acabou o problema. Não com as urgências, mas sim com a Sra. Ministra. Nos hospitais com problemas conhecidos, continuam os problemas. Na verdade, o SNS é assimétrico como aliás a grande maioria dos serviços do Estado. As dicotomias urbano/rural, litoral/interior, Norte/Sul estão bem vincadas. É bem conhecido que as regiões urbanas do litoral continental, acima de tudo no Norte, têm cuidados de saúde mais organizados e com acessibilidades melhores. Se considerarmos o sistema público, o Porto está melhor servido que Lisboa, Aveiro melhor que a Covilhã.
Mas como se alocam os recursos às diferentes regiões do pais? Qual a dimensão dos hospitais? Quais as valências e as equipas em cada urgência? A resposta é difícil e complexa. Necessita de um laborioso trabalho técnico. Criterioso e independente dos poderes e dos interesses regionais. Felizmente a Ordem dos Médicos deu um contributo importante com o “Regulamento da Constituição das Equipas Médicas nos Serviços de Urgência”, recentemente publicado no Diário da República. Agora cabe ao Ministério da Saúde, e Secretarias Regionais de Saúde, avaliá-lo e, acima de tudo, aplicá-lo. Ficará mais transparente avaliar onde faltam recursos, e fundamentar as eventuais críticas. Constitui também uma garantia de qualidade nas diferentes instituições que as cumpram.
Uma pergunta surgirá na cabeça dos leitores. Como ficamos como madeirenses na moldura? A avaliação tem de necessariamente ser feita, acima de tudo pelos responsáveis e pela Ordem. A minha opinião pessoal é que, genericamente, os critérios de constituição das equipas de Urgência são cumpridos na Região, em alguns casos com folga. As eventuais exceções terão de ser necessariamente atendidas, tanto mais que os nossos hospitais na Região são, pela natureza da insularidade, instituições fim de linha.
Em boa verdade a Madeira não tem um problema de oferta de cuidados de saúde em situações urgentes e em situações de catástrofe. Tem sim, como inúmeras vezes foi reconhecido, uma dificuldade em lidar com nas situações não urgentes, mas igualmente importantes. O problema das listas de espera cirúrgicas mantém a dimensão política e social de anos e anos.
Compreendo que para alguns é difícil dizer-se isto, mas não dizer é fugir ao problema. Espero, esperamos, que haja um novo foco nesta abordagem, de modo a que os madeirenses tenham o que merecem, bons cuidados de saúde a tempo e horas.
Mário Pereira