O Padre João Vieira viverá para sempre
Recordo-me dos anos letivos de 1974-75 a 1976-77: tempos conturbados de agitação política e social!
Era aluno da Escola Salesiana de Artes e Ofícios e, embora um pouco mais resguardados do ambiente exterior, não deixávamos de refletir na escola as ondas de choque que vinham do exterior.
Imperturbável, o Pe. Vieira, meu professor de Matemática durante 3 anos a fio, acumulando com a disciplina de Moral e Religião durante um ano, prosseguiu o seu trabalho pedagógico e educativo.
Não me lembro de o ver, uma vez que fosse, alterado. Nunca levantava a voz mais do que o necessário e, sobretudo, não tenho memória - numa turma de relativos rebeldes - de, alguma vez, algum de nós lhe ter sequer tentado afrontá-lo ou faltar-lhe ao respeito.
Não porque incutisse terror paralisante; mas porque, serenamente e de forma amável, nos conduzia pelos labirintos da Matemática deixando a impressão, mesmo para os cábulas e distraídos, que aquilo não era um "bicho de sete cabeças". E os excelentes resultados que os seus alunos tinham nos exames finais do Ciclo e, posteriormente, no Ensino Secundário, no Liceu para aqueles que prosseguiam os estudos, atestavam a qualidade da formação de base que tinham recebido do Pe. Vieira.
Tinha autoridade natural e, acima disso aquilo que se chama carisma, qualidade de que muitos falam, mas muito poucos efetivamente possuem.
Nos intervalos - e também nas aulas de Religião e Moral, o que agora que já ninguém pode censurá-lo, posso revelar publicamente -, transmitia o seu gosto particular pelo xadrez, mas também pelas charadas e pela poesia, sempre de forma afável e bem humorada. Gosto com que contaminou gerações que não o esquecem, mesmo depois de ter deixado lecionar.
O pouco que sei de Matemática e ainda aplico no meu quotidiano devo-o, não tenho dúvida, ao Pe. João Vieira. Alguma crença nos valores gerais da humanidade, como o respeito pelo próximo, a amabilidade e a crença de que há um bem comum que devemos prosseguir nas nossas pequenas tarefas do dia-a-dia, também lhe devo agradecer.
Estou certo de que estará no lugar reservado aos homens bons e justos!
João Cristiano Loja