Associação quer Governo e sociedade civil a resolverem a questão do fluxo de timorenses
A Associação Renovar a Mouraria defendeu hoje a criação de um grupo de trabalho que envolva instituições governamentais e organizações da sociedade civil para responder à "situação de emergência social" causada pelo recente fluxo migratório de timorenses para Portugal.
"Consideramos essencial a elaboração de um grupo de trabalho que inclua não só as instituições governamentais, mas também as organizações da sociedade civil que acompanham de perto e diariamente as pessoas nos seus territórios de intervenção", sublinha a associação num comunicado hoje divulgado.
A Renovar a Mouraria tem prestado apoio a dezenas de timorenses que se encontram em Lisboa em situação de sem-abrigo.
No comunicado, a associação defende também que o grupo seja "transparente quanto à sua composição e atuação, bem como tenha uma visão de médio e longo prazo" quanto ao trabalho a desenvolver com os imigrantes de Timor-Leste.
"Esta construção de um plano de ação estruturado, articulado e transparente será essencial para o acolhimento digno dos timorenses no nosso país", acrescenta.
Em declarações à agência Lusa, Rita Madeira, da Renovar a Mouraria lamentou que não exista um "plano coordenado de médio e longo prazo para acolher" aqueles imigrantes e frisou a importância de se trabalhar nesse plano para se fazer face ao "fluxo migratório que já se percebeu que vai continuar".
"Estamos a atuar para dar ajuda de forma pontual e emergencial e de curto prazo. Um plano de médio e longo prazo para este fluxo migratório é necessário", sublinhou.
Fazendo um retrato dos timorenses que têm aparecido nos últimos meses em Lisboa, vítimas de redes de tráfico humano, que os atraem com a promessa de trabalho, Rita Madeira disse que são sobretudo rapazes, jovens, entre os 20 e os 25 anos e que se concentram no eixo Martim Moniz/Baixa-Chiado/Intendente.
Apesar de ser uma população com alguma rotatividade, a dirigente associativa afirmou que têm sido em média 50 os imigrantes timorenses que estão nas ruas de Lisboa.
Alguns vêm com o objetivo de entrar no Reino Unido, mas a "questão do Brexit impossibilita esse fluxo", o que estes imigrantes desconheciam, afirmou.
Afastada está a possibilidade de regresso a Timor-Leste porque, apesar de tudo, "veem Portugal e a Europa como forma de encontrarem melhores condições socioeconómicas", explicou.
"A maior parte não quer regressar a Timor. Há um contexto sócio-económico bastante complicado para os jovens timorenses lá", afirmou Rita Madeira, acrescentando que, além disso, há a questão de terem contraído "dívidas altíssimas em Timor, algumas com juros muito elevados" para virem para Portugal, por isso, "o regresso a Timor é uma questão sensível".
"Apesar de estarem nesta situação, sentimos que há uma esperança de que, ainda assim, consigam encontrar uma situação melhor", acrescentou.
Com a ajuda de intérpretes voluntários de Tétum, a Renovar a Mouraria tem prestado apoio a estes jovens no sentido de lhes dar agasalhos, mantas, sacos-cama e roupa, "necessidades que eles identificaram porque estão a passar frio".
A Renovar a Mouraria trabalha com a Refood e com carrinhas que distribuem refeições pelos sem-abrigo.
Através do CLAIM Mouraria - Centro Local de Apoio à Integração Migrante tratam das questões mais burocráticas, como apoio à verificação de documentos, informação sobre os seus direitos, identificação de necessidade de inserção no mercado de trabalho.
"Vamos criar em breve novas turmas de ensino de português", referiu Rita Madeira.
A dirigente associativa disse ainda que a Renovar a Mouraria tem feito uma tentativa de articulação com outros serviços públicos, como a Câmara Municipal de Lisboa, mas não tem recebido resposta.
Nesse sentido, Rita Moreira lamentou que não haja "transparência", nem uma "resposta coordenada".
"A nível de coordenação e transparência temos sentido essa lacuna", afirmou à Lusa.
Por estar ciente de que a sua "capacidade de intervenção é limitada, quer geograficamente, quer a nível de recursos", é que a Renovar a Mouraria quer cooperar com entidades competentes.
"Um plano de ação estruturado, articulado e transparente será essencial para o acolhimento digno dos timorenses no nosso país", defende a associação no comunicado.
"A par com ele, devem aprofundar-se as investigações e o desmantelamento das redes de imigração ilegal e tráfico humano que beneficiam com a violação de Direitos Humanos destas pessoas, assim como se deve refletir sobre uma forma ética e responsável de dignificar fluxos migratórios e políticas de acolhimento através de acordos, neste caso, entre o Estado Português e o Estado Timorense", acrescenta.