Declarações russas sobre "bomba suja" são "absurdas e perigosas"
A Ucrânia negou hoje estar a preparar-se para lançar uma "bomba suja" contra as forças russas, após acusações nesse sentido do ministro da Defesa russo em conversas telefónicas com países da NATO.
"As efabulações russas sobre a Ucrânia estar a preparar-se para utilizar uma 'bomba suja' são tão absurdas como perigosas", reagiu o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, nas redes sociais.
O ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, transmitiu hoje aos seus homólogos francês, Sébastien Lecornu, turco, Hulusi Akar, e britânico, Ben Wallace, a preocupação de Moscovo com possíveis provocações da Ucrânia com uma "bomba suja", um engenho contendo elementos radioativos.
O Ministério da Defesa russo indicou num breve comunicado que Shoigu falou em separado com os ministros, numa uma tentativa inédita de vender ao Ocidente a sua propaganda sobre a escalada do conflito que iniciou na Ucrânia, a 24 de fevereiro.
"Abordou-se a situação na Ucrânia, que tem uma tendência constante para uma maior escalada descontrolada", disse o ministério na nota de imprensa sobre a conversa com Lecornu.
Shoigu transmitiu ainda aos ministros "a sua preocupação com possíveis provocações da Ucrânia com o uso de uma 'bomba suja', indicou a Defesa russa, referindo-se a engenhos explosivos com capacidade para dispersar elementos radioativos a grande distância, mas não fornecendo mais pormenores sobre tal acusação.
A agência oficial russa RIA Novosti noticiou hoje que, segundo "fontes credíveis em vários países, incluindo a Ucrânia", Kiev está a preparar uma provocação com uma "bomba suja" no seu próprio território para culpar a Rússia de utilizar armas de destruição maciça e desencadear uma forte resposta do Ocidente.
Num comunicado hoje divulgado, o ministro da Defesa britânico, Ben Wallace, indicou ter "refutado", numa rara conversa telefónica com o seu homólogo russo, as afirmações de Moscovo segundo as quais os países ocidentais estão a facilitar uma escalada da guerra na Ucrânia, advertindo-o de que "tais acusações não deveriam servir de pretexto para uma maior escalada" no conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
Por sua vez, o ministro da Defesa francês, Sébastien Lecornu, recordou que "França rejeita qualquer forma de escalada, em particular a nuclear", frisando a sua determinação em "contribuir para uma solução pacífica do conflito, em conjunto com os seus aliados".
Participando em Roma na abertura de um fórum internacional intitulado "O grito da paz: religiões e culturas em diálogo", o Presidente da República francês, Emmanuel Macron, defendeu a necessidade de apoiar a Ucrânia contra a invasão russa, argumentando que a neutralidade do mundo perante a agressão "validaria a lei do mais forte" na ordem internacional.
"Hoje, há um povo agredido e, do outro lado, dirigentes que decidiram atacar, invadir e humilhar um país vizinho. Mantermo-nos neutrais significaria aceitar a lei do mais forte (...) e, portanto, a dominação substituiria o direito", sustentou.
Macron lamentou o regresso da guerra ao continente europeu, especialmente quando envolve uma potência nuclear como a Rússia, mas considerou que devem ser os ucranianos a optar pela paz "quando quiserem e for respeitada a sua soberania".
Depois de referir ter decidido, desde o início da guerra na Ucrânia, continuar a falar com o Presidente russo, Vladimir Putin, ao contrário do que fizeram outros dirigentes ocidentais, incluindo o Presidente norte-americano, Joe Biden, Macron atribuiu a guerra a "um nacionalismo exacerbado do poder russo, que se alimentou do ressentimento e da humilhação que se seguiu ao colapso da União Soviética", tentando "justificar o conflito e criar a sua própria narrativa" com propaganda para o povo russo.
Shoigu conversou também hoje por telefone com o chefe do Pentágono, Lloyd Austin, -- a sua segunda conversa desde sexta-feira e a terceira desde o início do conflito -, mas o comunicado da Defesa russa sobre ela não refere que o ministro russo tenha mencionado as acusações de uma potencial utilização pelos ucranianos de uma "bomba suja".
Estas conversas surgem numa altura em que a Rússia enfrenta uma vasta contraofensiva ucraniana e denuncia um "aumento considerável" do fogo ucraniano em várias regiões fronteiriças com a Rússia.
E também numa altura em que Putin já declarou a anexação de quatro regiões do leste do país (além da península da Crimeia, que anexou em 2014) e deportou para o seu território dezenas de milhares de ucranianos, por entre ameaças de um ataque nuclear ao Ocidente, por causa da ajuda militar e humanitária que este está a fornecer às forças ucranianas e da adesão da Finlândia e da Suécia à NATO (Organização do Tratado do Atlântico-Norte, bloco de defesa ocidental).