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Liz Truss, de líder improvável ao Governo britânico mais curto de sempre

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A primeira-ministra britânica demissionária, Liz Truss, ficou hoje na história como líder do governo britânico mais curto de sempre.

Liz Truss, de 47 anos, desafiou todas as probabilidades ao ser eleita líder do Partido Conservador britânico, e consequentemente a quarta chefe de Governo em seis anos. 

Enquanto governante, era motivo de chacota devido ao excerto cómico de um célebre e desajeitado discurso que circula nas redes sociais desde 2014, quando era ministra do Ambiente.

"Dois terços das maçãs e nove décimos das peras que comemos são importadas. Para não falar de dois terços do queijo. É uma vergonha", exclamou, zangada, no congresso do partido, perante uma audiência perplexa.

Em 2009 quase foi impedida de se candidatar ao parlamento por ter tido um caso extraconjugal com o deputado Mark Field, revelação que pôs fim ao casamento do mentor, 10 anos mais velho. 

Nos meses anteriores à vitória foram também descobertos vídeos embaraçosos de 1994, de quando era militante ativa dos Liberais Democratas e defendeu a abolição da monarquia, e o rival na corrida conservadora Rishi Sunak não deixou de lembrar que Truss fez campanha contra o 'Brexit' (processo de saída do Reino Unida da União Europeia) no referendo de 2016. 

Mesmo no início da eleição para substituir Boris Johnson, a chefe da diplomacia britânica ficou em terceiro lugar nas rondas iniciais de votação e não era favorecida por analistas, militantes ou casas de apostas, que preferiam Penny Mordaunt ou Kemi Badenoch.

Quando se qualificou como finalista, em julho, ficou atrás de Sunak, o favorito dos deputados conservadores.

Liz Truss procurou reinventar-se à imagem da antiga primeira-ministra britânica Margaret Thatcher (conhecida mundialmente como a 'Dama de Ferro'), assumindo-se como eurocética, militarista, defensora de impostos baixos e crítica de questões como os direitos dos transgéneros.

Nascida Mary Elizabeth Truss em Oxford, em julho de 1975, viveu em Paisley, nos arredores de Glasgow, Escócia, e em Leeds, no norte de Inglaterra antes de voltar a Oxford para os estudos superiores.

A mais velha de quatro filhos, na infância, acompanhou as atividades políticas do pai nos anos 1980, professor de matemática, e a mãe, enfermeira, ambos de esquerda, militantes do Partido Verde e da Campanha pelo Desarmamento Nuclear.

Numa entrevista à estação pública britânica BBC, recordou os "pudins de beterraba" que comia, o "míssil" de três metros de alcatifa e papel de parede às flores feito pela mãe para levar para uma manifestação e os gritos contra Thatcher, a primeira-ministra conservadora da altura.

Foi durante a universidade, onde estudou Política, Filosofia e Economia, que se associou ao Partido Conservador, para choque da família e amigos, e aos 25 anos candidatou-se pela primeira vez a deputada, sem sucesso.

Entrou no parlamento em 2010 e teve uma ascensão rápida nas fileiras, começando por ministra do Ambiente em 2014, ministra da Justiça em 2016, secretária de Estado das Finanças em 2017, ministra do Comércio Internacional em 2019 e ministra dos Negócios Estrangeiros em 2021.

Apesar de ter votado contra a saída do Reino Unido da União Europeia, tornou-se numa das maiores defensoras das "oportunidades do 'Brexit'", negociando e anunciando novos acordos de comércio livre e mostrando-se intransigente no impasse com Bruxelas sobre a Irlanda do Norte.

Liz Truss tem sido dura no confronto com a Rússia após a invasão da Ucrânia, protagonizando muitos dos pacotes de sanções internacionais, e com a China, que qualifica como uma "ameaça". 

Mas nos últimos tempos tem-se vindo a conhecer um lado mais descontraído, que gosta de música de Bruce Springsteen e Taylor Swift, de comer queijo e de cantar em 'karaoke'.

Casada com o contabilista Hugh O'Leary desde 2000, com quem permaneceu apesar do caso extraconjugal com Mark Field, tem duas filhas (Liberty, 16 anos, e Frances, 13). 

Liz Truss informou hoje o Rei Carlos III da sua demissão de líder do Partido Conservador, mantendo-se em funções como primeira-ministra até que seja designado um novo líder do partido, que será indigitado pelo Rei, pois os Conservadores mantêm uma maioria absoluta no Parlamento.