Rússia avisa que UE passa a fazer "parte do conflito" ao treinar militares ucranianos
A Rússia avisou hoje que a União Europeia (UE) passou a fazer "parte do conflito" na Ucrânia, por ter aprovado uma missão de treino de milhares de soldados ucranianos.
"Quase 107 milhões de euros estão destinados a isso. Este passo aumenta o fornecimento de armas letais ao regime de Kiev e aumenta qualitativamente o envolvimento da UE, tornando-a parte do conflito", disse Maria Zakharova, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, em conferência de imprensa.
Zakharova referia-se à aprovação, na segunda-feira, pelos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE, de uma missão de assistência militar para o treino de cerca de 15 mil soldados das Forças Armadas da Ucrânia, durante dois anos, em território comunitário.
A porta-voz da diplomacia russa lembrou que o Ocidente decidiu manter a ajuda militar à Ucrânia, "aumentando o seu potencial de defesa antiaérea" e permitindo a Kiev preparar-se "para uma guerra prolongada".
"Isto, inevitavelmente, conduzirá a um aumento no número de vítimas. Mas, certamente, tal não constitui uma preocupação para o Ocidente. Esse é um dos seus objetivos", disse Zakharova.
Na rede social Twitter, também hoje, a porta-voz da diplomacia russa já tinha criticado o Governo português por ter enviado seis helicópteros de combate a incêndios para a Ucrânia, de origem russa, dizendo que se trata de uma "violação das suas obrigações contratuais".
"A Rússia não deu o seu consentimento para esta entrega, ainda mais quando Lisboa transfere helicópteros para a Ucrânia e não para não combater incêndios", explicou a porta-voz.
Na conferência de imprensa, Zakharova denunciou que, desde o início da invasão, em fevereiro, os países da NATO forneceram à Ucrânia 300 tanques, 130 carros de infantaria, 400 veículos blindados, 700 peças de artilharia, além de vários projéteis e munições.
"E, depois de tudo isso, os regimes dos países da UE pedem aos seus cidadãos para que tomem menos banhos, que garantam aquecimento por conta própria, porque não lhes podem garantir conforto. Sabemos em que gastam o dinheiro e, agora, também o sabem os cidadãos dos países da UE ", disse a porta-voz da diplomacia russa.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,5 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.