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China diz estar "mais perto" do centro na governação dos assuntos internacionais

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A China assegurou hoje que está "cada vez mais perto" do centro na governação dos assuntos internacionais, afirmando que a "grande ameaça à ordem mundial" é quem "insiste no confronto e intimidação", numa referência aos Estados Unidos.

"O mundo atravessa mudanças sem precedentes e a tendência histórica atual é de paz, desenvolvimento e cooperação, mas existem forças que insistem em manter uma mentalidade da Guerra Fria", disse Ma Zhaoxu, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, numa conferência de imprensa realizada à margem do 20º Congresso do Partido Comunista da China (PCC), que decorre, esta semana, em Pequim.

Numa alusão implícita aos Estados Unidos e aos seus aliados, Ma disse que há forças que "criam panelinhas, traçam linhas ideológicas, incitam o confronto e baseiam a sua política externa no poder hegemónico".

"Essas são a grande ameaça à ordem mundial", acusou. "Um mundo dividido não beneficia ninguém e o confronto só leva a becos sem saída", acrescentou.

Na mesma conferência de imprensa, Shen Beili, vice-ministro do Departamento Internacional do Comité Central do PCC, disse que a China "luta pelo progresso de toda a humanidade" e "está a aproximar-se cada vez mais do centro da governação dos assuntos internacionais".

Esta é uma ambição assumida pelo atual secretário-geral do PCC, Xi Jinping, que abdicou do "perfil discreto" na política externa chinesa, que vigorou durante décadas.

Xi Jinping deve reforçar o seu estatuto durante o congresso, ao obter um terceiro mandato e elevar aliados seus na estrutura do poder na China.

Sob a governação de Xi, o PCC, que afirmou sempre que a China nunca copiaria sistemas políticos de outros países, em particular a democracia de estilo Ocidental, passou a defender que o seu sistema de partido único é uma solução viável para as nações em desenvolvimento.

Nos últimos anos, Pequim avançou também com fóruns e organizações multilaterais próprias, no âmbito da Iniciativa 'Faixa e Rota'.

O projeto internacional de infraestruturas prevê a construção de portos, linhas ferroviárias ou autoestradas, ligando o leste da Ásia à Europa, Médio Oriente e África. O maior entrosamento entre Pequim e os países envolvidos abarca ainda o ciberespaço, meios académicos, imprensa, regras de comércio ou acordos financeiros, visando elevar o papel da moeda chinesa, o RMB, nas trocas comerciais. Observadores consideram que o objetivo da China é redesenhar o mapa da economia mundial e moldar uma nova ordem internacional.

Durante a conferência de imprensa, realizada via 'online', devido às medidas de prevenção epidémica vigentes na China, e com questões previamente acertadas com as autoridades, o vice-ministro Ma Zhaoxu ressaltou que o país asiático está comprometido com o "verdadeiro multilateralismo" e que, durante a próxima cimeira do G20, a China "vai desempenhar um papel positivo na promoção da recuperação económica global".

Ele também citou outros campos de cooperação, como a "energia, cadeias alimentares e segurança", mas não confirmou se Xi Jinping vai participar na cimeira, que se realiza, no próximo mês, em Bali, na Indonésia.

"Estamos num período de grande instabilidade e transformação. Xi tem uma visão global profunda, com novas iniciativas que refletem claramente o mundo que a China quer promover, o que inclui permanecer firme para defender a justiça e defender-nos contra quem nos ataca", disse.

Ma acrescentou que o PCC "defende a sua liderança e o seu sistema" e "rebateu vigorosamente" a recente visita da presidente da Câmara dos Representantes norte-americana, Nancy Pelosi, a Taiwan, e outras "ações malignas".

"Nós opomo-nos firmemente contra quem defende a 'independência de Taiwan' e impedimos qualquer interferência de forças estrangeiras nesta questão", disse.

Após Pelosi se deslocar à ilha - a visita de mais alto nível realizada pelos Estados Unidos ao território em 25 anos -- Pequim lançou exercícios militares numa escala sem precedentes, que incluíram o lançamento de mísseis e o uso de fogo real. Durante quase uma semana, o Exército de Libertação Popular fez um bloqueio marítimo e aéreo de facto ao território.

China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. Pequim considera Taiwan parte do seu território e ameaça a reunificação através da força, caso a ilha declare formalmente a independência.

O vice-ministro evitou comentar a guerra na Ucrânia, mas salientou que dada a "crise" e a "situação de segurança atual", a embaixada chinesa no país está a "organizar a retirada dos cidadãos chineses" e espera que esta seja concluída o "mais rápido possível".

Desde o início do conflito, a China manteve uma posição ambígua, pedindo respeito pela "integridade territorial de todos os países", incluindo a Ucrânia, e atenção às "preocupações legítimas de segurança de todos os países", referindo-se à Rússia.