Escolha do anfitrião Qatar envolta em polémica e 'batota'
A FIFA entregou ao Qatar, em dezembro de 2010, com alguma surpresa, ou não, a organização do Mundial de futebol de 2022 e desde logo suspeitas de 'batota' e favorecimento pairaram sobre a candidatura vencedora.
Em Zurique, a escolha do Qatar foi divulgada alguns minutos após a da Rússia para acolher o Mundial em 2018, em detrimento das candidaturas conjuntas de Portugal e Espanha, de Países Baixos e Bélgica e a de Inglaterra. Foram escolhidos dois estreantes na organização da competição.
O então presidente da FIFA, o suíço Joseph Blatter, justificou na altura as escolhas com a aposta em "novos territórios", mas, anos mais tarde, admitiu que a realização do Mundial no Qatar, primeiro país do Médio Oriente a receber a prova, tinha sido "um erro" - declarações posteriormente corrigidas, assinalando o "erro" mas se a competição fosse disputada no verão.
A escolha do anfitrião geograficamente mais pequeno da história dos Mundiais, que possibilita assistir a mais do que um jogo por dia, não foi unânime, mas superou as candidaturas dos Estados Unidos [14 votos contra oito dos norte-americanos, na última votação], Japão, Coreia do Sul e Austrália, que seria o único estreante.
O Mundial no Qatar levou a que, pela primeira vez, devido às fortes temperaturas verificadas naquela península no Golfo Pérsico nos meses habitualmente escolhidos para a prova, junho e julho, a rondar os 50 graus celsius, a que a prova decorra no inverno, entre 20 de novembro e 18 de dezembro.
O Qatar tinha pedido à FIFA para fazer uma "aposta arriscada", insistindo que o calor naquela região do globo não seria um problema, com a promessa de que com o recurso a tecnologia de ponta essa condição seria minimizada, quer junto dos jogadores quer junto dos adeptos.
A FIFA tem também como referências os Mundiais de 1986, no México, de 1994, nos Estados Unidos, e de 2014, no Brasil, onde se verificaram fortes ondas de calor e nem por isso deixaram de ser três dos campeonatos mais bem-sucedidos da história do futebol.
O peso do dinheiro catari, gerado pelo petróleo e pelo gás, e a abertura de novos mercados para os patrocinadores terá sido decisivo na atribuição da organização da prova, até porque do ponto de vista desportivo a seleção de futebol do país, na altura, encontrava-se na 113.ª posição do 'ranking' da FIFA.
As suspeitas de irregularidades e compra de votos em favor da candidatura do rico emirado começaram a ganhar corpo logo após a entrega da organização do Mundial ao Qatar e, nos meses que se seguiram ao anúncio da FIFA, várias denúncias e investigações revelaram vias de corrupção.
Algumas das denúncias de subornos para a compra de votos tiveram origem em altos funcionários da FIFA e, em 2014, o Sunday Times revelou documentos em que o presidente da Confederação Asiática de Futebol (CAF) na época, o catari Mohammed Bin Hammam, terá pago cerca de 4,4 milhões de euros (ME) em 'apoios'.
O processo engrossou quando uma antiga funcionária da candidatura catari admitiu que vários dirigentes africanos receberam cerca de 1,5 ME para que apoiassem e votassem a favor e o FBI investigou um pagamento de 1,8 ME ao tobaguenho Jack Warner, na altura líder da CONCACAF e vice-presidente da FIFA, com origem no Qatar.
O avolumar de denúncias de compra de votos em favor do Qatar abalou a estrutura da FIFA, que também conduziu uma investigação interna, e vários responsáveis foram mesmo detidos para averiguações, como o então presidente da UEFA, o francês Michel Platini.
Blatter, em declarações à agência noticiosa AFP, há três anos, implicou ainda na atribuição ao Qatar do Mundial o então Presidente de França Nicolas Sarkozy, que, alegadamente, terá pedido a Platini para apoiar a candidatura.
A acusação de Blatter surgiu após o Sunday Times ter revelado a existência de um acordo de 350 ME entre a FIFA e o canal Al-Jazeera (reforçado com mais 350 ME), assinado antes do anúncio, para o alegado pagamento de direitos televisivos, caso o Qatar fosse escolhido como anfitrião do Mundial.
De escândalo em escândalo, e além das práticas de corrupção na 'compra' de votos, o Mundial do Qatar é ainda confrontado com exploração do trabalho dos migrantes na construção dos estádios e infraestruturas e violação dos direitos humanos e já não se livra de ser o mais polémico de sempre.
A fase final do Mundial vai ser disputada entre 20 de novembro a 18 de dezembro por 32 equipas, descartada a pretensão do presidente da FIFA, Gianni Infantino, de aumentar os finalistas já para 48, por falta de estádios no Qatar. Portugal integra o Grupo H da competição, com Uruguai, Coreia do Sul e Gana.