Crónicas

O partido transgénero

O Partido Comunista sempre defendeu a ditadura do proletariado e o regime soviético. Com a Perestroika e Gorbatchov, (que o PCP quase aplaudia quando faleceu), a URSS finou. O império desmoronou-se fazendo com que países subjugados e oprimidos ganhassem vida independente. E ficou a Rússia. Potência político-militar na mesma, mas reduzida à sua real dimensão geográfica. Que continuou a ser de grande extensão.

Mas, politicamente mudou. Maior abertura, eleições, uma espécie de democracia musculada e autocrática. Resplandeceram rapidamente os inúmeros oligarcas que através da gerência pública de empresas enriqueceram criando uma casta que sustenta o regime e o seu líder.

O que fica extraordinário é que o Partido Comunista, que era suposto ser dos trabalhadores e, em Portugal, faz questão de o afirmar sucessivamente, apoia, na Rússia, o regime dos sumptuosamente endinheirados que se autossustentaram subtraindo o que, tudo indica e afinal, devia ser para o povo.

A incoerência é de tal ordem que perante uma guerra insana e imperial de Putin contra um país livre, democrático e independente, o PCP, ou a sua direcção, (suponho que com incómodo para alguns dos seus militantes), coloca-se do lado de um Kremlin dominado pelos tais magnatas abastados.

Eventualmente continua a ser financiado por aquele país. Como antigamente e tal como outras agremiações partidárias órfãs espalhadas por esse mundo fora. Sem a menor coerência, mas por absoluta necessidade. Mas, à conta disso, transforma-se num partido dual e transgénero. Cá dentro diz-se dos trabalhadores, lá fora é dos oligarcas milionários.