Bloqueio inédito no parlamento búlgaro confirma crise política
O parlamento búlgaro não conseguiu eleger hoje o seu presidente na sessão inaugural da legislatura, após oito horas em que nenhum dos cinco candidatos conseguiu a maioria necessária, num bloqueio inédito que antecipa a dificuldade em formar novo Governo.
Na sequência desta situação inédita na política interna búlgara, a sessão foi adiada para quinta-feira para que prossigam as votações destinadas a eleger o presidente do hemiciclo saído das eleições antecipadas de 02 de outubro, as quartas em 18 meses.
No caso de nenhum candidato garantir os 121 votos de deputados estabelecidos pela Constituição, o deputado mais idoso assumirá o cargo de presidente interino por tempo indefinido. Neste período, não será possível eleger os vice-presidentes e a atividade parlamentar fica muito limitada.
Ao garantir 103 apoios, Rosen Zhelyazkov, do partido populista e conservador Cidadãos para o Desenvolvimento Europeu da Bulgária (GERB), surgiu na primeira posição, mas ficou a 17 votos da eleição.
Esta situação perspetiva as dificuldades para formar um Governo entre os sete partidos com assento parlamentar, devido às suas profundas e tradicionais divergências que se acentuaram na sequência da invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro, com uma crescente fratura entre as formações "pró-russas" e "europeístas", num país integrado na União Europeia (UE) e membro da NATO.
Três dos sete partidos representados no parlamento já asseguraram que não vão participar num Executivo com o GERB liderado pelo ex-primeiro-ministro Boiko Borrissov, que acusam de ser o principal responsável pelos elevados índices de corrupção na Bulgária, o país mais pobre da UE.
Em simultâneo, o GERB recusa negociar com três formações pró-russas e com o Movimento para os Direitos e Liberdades (DPS), o partido da importante minoria turca.
O GERB garantiu 25,4 por cento dos votos no escrutínio de 02 de outubro, relegando para a segunda posição o reformista Continuamos a Mudança (PP) do primeiro-ministro cessante Kril Petkov, ao obter mais cinco pontos percentuais. Cinco outros partidos ultrapassaram a barreira obrigatória para garantir presença no parlamento de 240 lugares.
Borissov dirigiu três governos entre 2009 e 2021. A sua reputação foi prejudicada por alegações de práticas de corrupção, relações com oligarcas e ataques à liberdade de imprensa, que originaram protestos massivos.
O PP de Petkov, que se demitiu em agosto passado após a aprovação de uma moção de censura no parlamento, tem excluído até ao momento qualquer aliança com o GERB.
O liberal e pró-europeu Bulgária Democrática (DB), de Hirsto Ivanov (7,5% dos votos) também tem manifestado indisponibilidade para se unir ao GERB numa coligação de poder.