Redução drástica do número de caranguejos da neve atribuída às alterações climáticas
Ao largo da costa do Alasca, o Mar de Bering abriga uma população icónica de caranguejos da neve, que se desenvolvem em águas frias, mas o aumento das temperaturas é apontado como o motivo para o seu declínio.
O aumento da temperatura das águas nos últimos anos levou as autoridades a tomar uma decisão sem precedentes: o cancelamento total da época de pesca deste ano para a espécie, que é um recurso local crucial.
De acordo com o último levantamento, realizado no verão, o número estimado de caranguejos da neve caiu para 1,9 mil milhões em 2022, em comparação com 11,7 mil milhões em 2018, o que representa uma diminuição de cerca de 85%.
Face a este cenário, as alterações climáticas são o principal fator apontado como responsável, explicou na terça-feira, à AFP, a bióloga que trabalha há anos no recenseamento destes caranguejos no Alasca, Erin Fedewa.
Em 2018 e 2019, as vagas de calor aumentaram muito as temperaturas da água em profundidade.
"Aquele habitat de água fria de que necessitam era então quase inexistente, o que sugere que a temperatura é realmente a principal culpada" deste declínio, disse a especialista. "Tudo aponta realmente para as alterações climáticas", acrescentou.
Até agora, este tipo de caranguejo, com as suas conchas redondas de cor laranja, que podem crescer até 15 centímetros nos machos adultos, têm sido um recurso seguro para as comunidades costeiras.
"Estes são tempos difíceis e sem precedentes para a icónica pesca do caranguejo do Alasca", lamentou o responsável da organização comercial Alaska Bering Sea Crabbers, Jamie Goen, que prevê que "a segunda e terceira gerações de famílias de pescadores de caranguejo serão forçadas a abandonar o negócio".
O Departamento das Pescas do Alasca frisou, num comunicado, compreender "que este encerramento terá um impacto substancial nos pescadores, na indústria e nas comunidades que deles dependem", mas sublinhou "a necessidade de preservação a longo prazo" da espécie.
A população de caranguejos da neve tem vindo a diminuir há décadas e, a partir de 2019, "as coisas tomaram um rumo drástico, que surpreendeu toda a gente", disse Erin Fedewa.
Durante o censo de 2021, "nas estações onde normalmente se apanham milhares de caranguejos da neve, havia apenas algumas centenas", realçou a bióloga.
Nos últimos anos, os caranguejos têm sido vistos em áreas mais a norte do que o habitual, em direção a águas mais frias. Os caranguejos jovens, em particular, necessitam de temperaturas inferiores a 02 graus Celsius, o que lhes permite escapar aos predadores.
Em 2017, a temperatura da água em profundidade na sua área de evolução era de 1,5 graus Celcius, mas em 2018 aumentou para 3,5 graus Celsius, explicou Erin Fedewa.