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Aumentam para 52 as detenções de activistas após protestos recentes em Cuba

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O número de manifestantes detidos por participação nos protestos de finais de setembro em Cuba, após a passagem do furacão Ian, subiu para 52, indicou ontem a organização não-governamental (ONG) Justicia 11J.

No total, 23 pessoas continuam sob custódia, e as detenções mais recentes ocorreram na segunda-feira na cidade oriental de Santiago de Cuba, onde três pessoas foram presas, segundo a ONG.

A Justicia 11J acrescentou que, desde os protestos de 11 de julho de 2021 -- os maiores registados em décadas no país -- houve um total de 1.753 detenções.

Catorze dos manifestantes detidos nesse dia do ano passado em San Miguel del Padrón foram condenados a até dez anos de prisão por crimes de "desordem pública, desacato e agressão e instigação a cometer crime".

Segundo a sentença do Tribunal Municipal Popular Arroyo Naranjo, datada de 30 de setembro e hoje citada pela agência de notícias espanhola EFE, desses 14 condenados só dois receberam uma sentença de cinco anos de "trabalho correcional sem prisão efetiva".

O tribunal considerou provado que os condenados se manifestaram de forma "violenta e agressiva" e convocaram mais pessoas a juntar-se-lhes -- "fundamentalmente nas redes sociais" -- para "desestabilizar o Estado de Direito e a Justiça Social".

Ainda segundo a sentença, que ainda pode ser alvo de recurso, os arguidos também "vociferaram frases e palavras de ordem depreciativas e ofensivas" contra o Presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, e atiraram pedras aos polícias.

Desde julho deste ano, realizaram-se manifestações em todo o país, principalmente por causa dos constantes cortes de eletricidade, que aumentaram em consequência da passagem do Ian.

Os danos causados pelo furacão -- que tocou terra com categoria 3 a 27 de setembro -- aliados aos já frequentes apagões aumentaram o descontentamento social.

Todo o território de Cuba passou dias inteiros sem eletricidade, água e rede de Internet. Alguns bairros de Havana estiveram até seis dias consecutivos sem energia elétrica.

A situação foi estabilizando nas últimas semanas, mas não em todo o país: na zona mais afetada pelo Ian, Pinar del Río, mantêm-se os problemas.

Só hoje, os apagões afetarão cerca de 37% do território cubano no horário de maior consumo durante a tarde e a noite, indicou a estatal Unión Elétrica (UNE).

O órgão de comunicação social independente Proyecto Inventario estimou em cerca de uma centena o número de apagões nos últimos 15 dias, com base em testemunhos e vídeos divulgados nas redes sociais.

Estes protestos -- de manifestações a protestos sentados, passando por cortes de ruas e marchas em que as pessoas batem panelas e tachos (os chamados 'cacerolazos') -- são eminentemente pacíficos, e a sua principal reivindicação é a reposição da energia elétrica, mas também se ouvem palavras de ordem como "Liberdade!" e outras contra o Governo de Díaz-Canel.

Cerca de metade dos protestos decorreu em Havana, onde também se concentrou a maior parte das 30 detenções contabilizadas por grupos de ativistas.

Na passada sexta-feira, a Procuradoria-Geral cubana advertiu de que está a investigar os recentes protestos e que os atos criminosos "receberão a correspondente resposta judicial penal".