O voto é ou não cada vez mais secreto?
O direito ao voto, universal e secreto, é uma faculdade dos cidadãos para elegerem os seus representantes. Tornou-se secreto para que as pessoas no “segredo do voto” possam escolher aqueles que querem a exercer o poder. Todavia, quem exerce o seu direito não está obrigado a escondê-lo. Por isso, criaram-se os estudos de opinião/sondagens para que os que se propõe a governar saibam o estado da arte e possam preparar a noite eleitoral.
Se analisarmos as eleições Presidenciais americanas de 2016, portuguesas de 2021 e brasileiras de 2022, rapidamente concluímos que há um fator comum: há uma subvalorização generalizada dos candidatos extremistas ao longo dos vários estudos de opinião que se torna evidente contados os votos.
Senão vejamos: em 2016, Trump chegou a estar a 20% de Hillary Clinton, prevendo-se que este venceria apenas em 10 estados. Resultado: Trump ganhou em 28 Estados e, com isso, venceu as eleições no sistema americano; em Portugal, todos os estudos de opinião indicavam que Ventura teria sempre menos 3 a 6% do que Ana Gomes. Resultado: Ana Gomes teve apenas mais 1,03% dos votos do que Ventura tendo este vencido a candidata de esquerda em mais de 250 concelhos, em 11 distritos e numa Região Autónoma; no Brasil, a discussão era saber se Lula venceria ou não à primeira volta, uma vez que todos os estudos de opinião indicavam uma vantagem deste sobre Bolsonaro de 12 a 17%. Resultado: segunda volta a 30 de outubro em que ambos partem com uma distância de 4,5%.
Parece evidente que as ideias definidas como “socialmente aceites” pelos diversos “mass-media” não estão assim tão próximas do pensamento do eleitor que, em cima do voto, tende a expressar uma visão mais radicalizada do que o politicamente correto proliferado nos diversos meios de comunicação social. Num mundo em que há um fosso entre o pensamento teorizado por alguns e o mundo real de tantos outros, onde as questões são menos ideológicas e mais pessoalizadas importa perceber o porquê dessas assimetrias. Existem diferentes perceções da mesma realidade? Apesar de vivermos numa “era da informação” em que os “doutores e operários” se podem expressar, de igual forma, em muitos fóruns, não há uma ideia generalizada de que as sondagens falham mais do que no passado?
Não será esta a maior demonstração do mundo moderno de que embora conectados e alimentados pelos mesmos conteúdos qualquer cidadão é igual, perante a Democracia, ao contrário do que os extremistas defendem? Ou somos apenas dissimulados que fingem dar consentimento ao politicamente correto, mas que na verdade sabem perfeitamente as opções que querem tomar e só não têm coragem de as assumir?