Situação dos trabalhadores do turismo nos Açores é "mais grave" do que a nacional, alerta sindicato
O sindicato dos trabalhadores do Turismo considerou hoje que a situação laboral do setor nos Açores é "mais grave" do que a nível nacional, defendendo-se a adoção de "medidas excecionais".
O Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Alimentação, Comercio e Escritórios, Hotelaria e Turismo dos Açores (SITACEHT/AÇORES) refere que "tempos excecionais exigem medidas excecionais que protejam e reforcem os direitos e os rendimentos dos trabalhadores e que garantam proteção social".
O sindicato, segundo um comunicado enviado à comunicação social, não pretende "abdicar de lutar por melhores salários, melhores horários, defesa dos direitos, carreiras profissionais e condições de trabalho dignas".
O SITACEHT/AÇORES aponta que "está muito preocupado com a situação dos trabalhadores da hotelaria e da restauração na região", um setor de que "paga salários muito baixos e exige longas jornadas de trabalho".
De acordo com o sindicato, "são muitos os trabalhadores do setor do turismo que recebem apenas o salário mínimo praticado na região, de 740,25 euros".
O sindicato ressalva que os horários de trabalho praticados no setor do turismo "são muito longos e instáveis, não assegurando a conciliação da atividade profissional com a vida pessoal e familiar dos trabalhadores".
"Devido à falta de trabalhadores nas diversas secções, os ritmos de trabalho são muito intensos e põem em causa, de forma grave, a saúde dos trabalhadores e a qualidade de serviço. Além disso, as empresas não valorizam o trabalho prestado ao fim de semana", afirma o SITACEHT/AÇORES.
Para o sindicato, apesar do "grande crescimento de turistas nos Açores, de dormidas e de receitas, as associações patronais e as empresas não praticam salários justos, não valorizam as carreiras profissionais e nem criam condições de trabalho dignas".
As empresas "queixam-se da falta de mão de obra, mas não absorvem os formandos das escolas hoteleiras, reclamam junto do Governo Regional, mas não garantem formação profissional em técnicas hoteleiras e línguas portuguesa e inglesa, nem contratos permanentes de trabalho", de acordo com a estrutura sindical.
"Pedem e querem a vinda de imigrantes à força, para que possam manter esta política de mão de obra barata, aumentar ainda mais a precariedade e pôr em causa os direitos laborais dos trabalhadores, o que se reflete na qualidade de serviço".
O SITACEHT/AÇORES partilha "para os mais céticos" alguns dos dados avançados pelo estudo "Perceção do emprego no setor da hotelaria e restauração", da Eurofirms, empresa de Recursos Humanos especializada em gestão de talento, realizado em maio de 2022, onde se refere que cerca de 61% dos trabalhadores com experiência na área de hotelaria e restauração revelam ter um contrato temporário.
O estudo adianta que 58% dos trabalhadores "não se vê a trabalhar no setor num espaço de três a cinco anos, devido à instabilidade, durabilidade nos contratos e dificuldade do setor em reter talentos".
O SITACEHT/AÇORES, continuando a citar o estudo, refere que os horários, a conciliação com a vida pessoal e a falta de estabilidade são fatores que os trabalhadores querem mudar no setor.
As condições que pesam de "forma negativa para que o setor não seja atrativo" são os horários e a conciliação familiar (41,8%), seguindo-se os salários praticados com 35,4%, sendo que mais de metade (54%) não ultrapassa os 800 euros por mês.
A precariedade laboral surge em terceiro lugar, com 33,3% das respostas, sendo que a "pouca flexibilidade e o plano de carreira" estão em quarto e quinto lugar com 24,1% e 14,8%, respetivamente.
O sindicato "não têm dúvidas em afirmar que a situação dos trabalhadores nos Açores é mais grave do que, a que se verifica nível nacional".