Activistas antifascistas deixam ameaça ao novo presidente do Senado
Activistas antifascistas ("antifas") ameaçaram o novo presidente do Senado italiano, Ignazio La Russa, do partido Irmãos de Itália (extrema-direita), com uma faixa colocada perto do Coliseu, em Roma, suscitando este sábado a condenação da maioria das forças políticas italianas.
"Bem-vindo, presidente La Russa. A resistência continua", era a frase exibida na faixa colocada na noite de sexta-feira e da responsabilidade do grupo "Cambiare rota" ("Mudar de rumo"), que foi rapidamente retirada pela polícia, segundo as agências internacionais.
Na sua página na rede social Facebook, o grupo antifascista acrescentou: "Ficaremos contentes por lhe mostrar, e também ao parlamento, o significado do antifascismo militante".
O grupo deixou outra mensagem numa das sedes do partido na capital italiana.
No bairro romano de La Garbatella, onde cresceu Giorgia Meloni, a provável futura primeira-ministra italiana e que esteve na fundação do partido Fratelli d'Italia (Irmãos de Itália) no final de 2012 com Ignazio La Russa, o portão de ferro de uma sede do partido foi pincelada com a frase "La Russa, Garbatella odeia-te", com a assinatura "Antifa" ao lado de uma estrela de cinco pontas.
Este símbolo pode recordar o utilizado pelo grupo armado de extrema-esquerda Le Brigate Rosse (Brigadas Vermelhas) que cometeu numerosos assassinatos na década de 1970, incluindo o do político e ex-primeiro-ministro italiano Aldo Moro em 1978.
No decurso destes "anos de chumbo", militantes neofascistas efetuaram diversos assassinatos e atentados à bomba com um balanço de centenas de mortos.
Giorgia Meloni denunciou "uma referência aos trágicos anos aos quais não queremos mais regressar. O nosso compromisso é unir a nação, não dividi-la", segundo afirmou ontem na rede social Twitter.
Do lado da oposição, o Partido Democrático (PD, centro-esquerda) denunciou "um ato vil", enquanto o visado "agradeceu às forças políticas que exprimiram a sua solidariedade".
A eleição na quinta-feira para a liderança do Senado (câmara alta da parlamento italiano) de Ignazio La Russa, um colecionador de bustos e medalhas com a efígie de Benito Mussolini, provocou polémica, que se acentuou na sexta-feira pela eleição para a presidência da câmara dos deputados [câmara baixa do parlamento] de Lorenzo Fontana, um católico ultraconservador e membro da Lega (Liga, conservadora e ultranacionalista), a força política de Matteo Salvini.
"Meloni diz que pretendem unir o país e não dividi-lo. Elegeram La Russa e Fontana. O que seria se pretendessem dividi-lo", ironizou no Twitter o deputado do PD Andrea Orlando, citado pela agência noticiosa AFP.
O número dois do PD, Peppe Provenzano, referiu-se por sua vez a "um concurso de extremismo".
Em simultâneo, a coligação direita/extrema-direita que junta os Irmãos de Itália, a Liga e a Forza Italia (Força Itália) de Silvio Berlusconi, denuncia profundas divisões em torno da formação do Governo.
Meloni opõe-se em particular à nomeação de certas personalidades propostas por Silvio Berlusconi, incluindo os senadores que se abstiveram durante a eleição de Ignazio La Russa com o objetivo de exercerem pressão sobre a potencial chefe de Governo.
Imagens divulgadas pela televisão e registadas no Senado exibiram notas manuscritas do magnata e dirigidas a Giorgia Meloni, considerando-a designadamente de "arrogante e dogmática".
Meloni respondeu-lhe, para assegurar que não cederá no processo de atribuição das pastas governativas.
"Sou insensível à chantagem", declarou.
Ontem, Matteo Salvini pronunciou-se sobre as desavenças, para garantir que "a harmonia vai regressar".