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Utilizador-Pagador

Por uma qualquer razão que, muito sinceramente, não consigo mesmo perceber, a discussão sobre a taxa turística voltou à baila e não necessariamente do lado certo da barricada, o que torna tudo isto ainda mais estranho.

Imagino que já me terei manifestado contra esta lógica da taxação de tudo o que mexe só porque sim e mesmo quando mexe pouco, que se agrava quando mexe mais do que estes senhores entendem razoável. Mexe-me com os nervos, o tema. E com as mexedelas lá foram uns quantos caracteres…

Pequeno parêntesis para explicar que estou (também) a referir-me a este conceito verdadeiramente absurdo de lucro excessivo, que imagino só exista na Venezuela… Quem define o que é excessivo? E baseado em quê? E são os mesmos que arrecadam mais impostos por via da inflação que dizem a outros que estão a ganhar demais!

Seria aceitável discutir a questão da taxa turística noutro momento e, sobretudo, com um enquadramento fiscal que tem todo ele de ser repensado. Não é possível aceitar a introdução de mais uma taxa quando já pagamos tantas, mais ou menos escondidas, mais ou menos explícitas. Não esquecendo as contribuições.

Aliás, nós só somamos taxas às que já temos, já repararam? Algumas até podem baixar de percentagem mas lá desaparecer, isso nunca acontece e nem aquelas que nascem temporárias se algum dia vão embora!

Não consigo entender a razoabilidade em exigir que mais de 1/5 daquilo que é produzido, vendido, servido ou transaccionado, seja lá o que for, vá parar às mãos de uma entidade que tão mau uso faz dessas verbas. Já nem falo do IRS; aí então, é de bradar aos céus a injustiça entre o que se paga e o que se recebe!

Para mal de muitos que defendem outras lógicas, julgo que muito em breve teremos de rever este contrato dito social, que não me parece possível manter nestes moldes e que, sobretudo, tem de ser alterado no seu princípio: - pagar menos pelo abstracto e mais pelo que efectivamente se utiliza.

Isto parece passar-nos ao lado e manifestamo-nos pouco, agarrados que ficamos a uma teórica perda do nosso pequeno benefício, do nosso apoio, do subsídio ou do emprego para a vida mas já viram o estado em que está a saúde, a educação ou a justiça? E a Defesa? Já nem falo das empresas públicas, essas novas caravelas rumo aos Descobrimentos 2.0, exemplos de boa gestão…

Há dias, dizia a uns amigos que me “picavam” com o tema que até aceitaria começar a pagar taxa turística quando abolissem o IMI. Eu sei, tenho uma implicância particular com este imposto, assim como tenho com o conceito de pagamento por conta, que também candidamente aceitamos.

Se me disserem, no entanto, que vão em alternativa fazer pagar as levadas e trilhos, mais alguns acessos ao mar, os miradouros e entradas em locais outrora gratuitos por contrapartida da respectiva manutenção, da introdução de instalações sanitárias ou de condições de segurança, aí assino logo por baixo. Porque acredito nesta lógica do utilizador-pagador!