O professor
Que é a vertente que me interessa relevar. Sem esquecer, naturalmente, o percurso jurídico como causídico e o rico currículo político que extravasa regimes, desde ministro de Salazar a presidente do CDS, um dos partidos fundadores da democracia que despontou com a revolução de Abril.
Adriano Moreira, no início da carreira de advogado, mostrou simpatias pelas hostes da oposição a Salazar. Mais tarde converteu-se e foi chamado a exercer funções governativas como Subsecretário de Estado primeiro e, depois, como Ministro do Ultramar.
Mas essa estadia activa no seio do status quo de então foi sol de pouca dura. Percorreu o caminho de aproximação integral ao regime democrático que desbocou na adesão à militância no CDS. Sucedeu a Freitas do Amaral desde que este cedeu ao chamamento do poder abraçando diferentes governos do PS. Mais tarde foi Conselheiro de Estado.
Mas a referência à insigne personagem advêm de circunstância pessoal. Apesar da esquizofrenia revolucionária do momento, com expedientes que visavam dificultar o acesso às universidades dos pretendentes ao ensino superior, entrei em Direito. Não propriamente por vocação, mas porque os líderes partidários da altura eram todos licenciados naquele curso. E eu já andava nessas lides e, em Lisboa, como dirigente nacional da juventude social democrata.
Ora, na faculdade o senhor foi meu professor de Direito Internacional. Era um gosto ouvi-lo. Um dia, na entrega de um teste disse-me algo assim: “O resto não sei, mas político não me admirava”. Palpitou bem o homem que fez agora 100 anos plenos de sabedoria.