Artigos

Vamos fazer…

Vamos fazer o que ainda não foi feito. Ou, pelo menos, vamos fazer o que há muito não se faz.

Vamos fazer um esforço por fazer corresponder os anseios de quem nos visita com o que de facto temos para oferecer. Vamos fazer com que esta oferta corresponda, em termos de valor, com o que temos para oferecer e com o que quem nos procura está disposto a pagar, e vamos adequar o discurso de forma a que bata certo com o que estamos a oferecer, e aqui é importante que os discursos interno e externo batam certo.

Não sei se temos noção, por exemplo, do que procuram na Madeira os turistas que nos visitam. Há uns anos sei que procuravam calma, e natureza… há uns anos sabia que encontravam parte do que procuravam, embora se queixassem de excesso de construção, e de pouco respeito pela natureza. Esse é, na verdade, também o feedback que me dão os grupos com que trabalho no dia a dia.

Não sei se há turistas para encher os hotéis e alojamentos locais que crescem como cogumelos um pouco por toda a ilha, e particularmente no Funchal. Sei que muitos dos turistas com que lido diariamente se queixam de excesso de construção, não só no Funchal, mas ao longo de toda a costa.

Sei que já não há condições para gerir a explosão de carros de aluguer, que se nota um pouco por toda a ilha, e que transforma alguns pontos específicos (Areeiro, Rabaçal, Ponta de São Lourenço, Achada do Teixeira, Cabo Girão) em verdadeiras cenas de faroeste – com a diferença que no faroeste há um xerife que põe ordem nas hostes…

Montar uma placa a dizer que é proibido estacionar vale zero se esta proibição não for fiscalizada… e imposta. Não há nada de errado na PSP sair de manhã para o Areeiro com um carregamento de grampos e a esquadra movel… 30 euros de estacionamento indevido, e 120 do grampo… muito rapidamente se pagariam os salários dos polícias envolvidos, e muito ganharia o erário regional – assim como o funcionamento do Areeiro. E quem diz Areeiro diz todos os outros locais. Nem seria preciso lá ir todos os dias… muito rapidamente a informação se espalharia…

Tinha um amigo que me dizia que viver não era difícil… o difícil era saber viver. Há demasiadas pessoas na administração do turismo que nunca fizeram prática. Que nunca estiveram no terreno. Que nunca receberam um grupo no aeroporto, e que nunca os acompanharam numa levada. Que nunca assistiram a um pick up, numa hora de ponta artificial porque algum mentecapto resolveu autorizar uma atividade desportiva que basicamente fecha a parte “produtiva” da cidade durante horas. Sim, a cidade é dos que moram nela. Mas o turismo é – ainda – o que torna a cidade (e a ilha) mais ou menos sustentável. E que garante o emprego à maior parte dos cidadãos. Será mesmo que a corrida tem de começar às 08h? Não poderia começar às 10h, ou às 10h30, depois de ter acabado o grosso dos pick ups? E assim toda a cidade funciona para todos…