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Sé do Funchal recebe dois concertos do Festival de Órgão neste fim-de-semana

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Depois do concerto inaugural desta sexta-feira do 11.º Festival de Órgão da Madeira (FOM), evento organizado pela Secretaria Regional de Turismo e Cultura, através da Direção Regional da Cultura, a Sé do Funchal recebe dois concertos, um amanhã e outro no domingo, dedicado às ‘Flores de música’. O concerto conta com João Vaz, diretor artístico do FOM, no órgão principal, André Ferreira no órgão de coro e o Ensemble Ars Lusitana sob direção de Isaac Alonso de Molina.

As atuações, ambas com entrada gratuita, realizam-se amanhã às 21h30 e, no domingo, dia 16 de outubro, às 11 horas, no âmbito da missa dominical daquela catedral.

Sobre o programa destes concertos, João Vaz explica que, com mais de quinhentas páginas, Flores de musica, do português Manuel Rodrigues Coelho é uma das mais extensas partituras para tecla impressas no século XVII. As obras litúrgicas de Coelho são interpretadas neste concerto numa recriação da liturgia da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria, tal como seria realizada em Portugal no início de seiscentos. As peças de órgão são apresentadas lado a lado com cantochão e obras polifónicas de alguns dos mais destacados compositores ibéricos do seu tempo.

Natural de Lisboa, João Vaz é diplomado em Órgão pela Escola Superior de Música de Lisboa, sob a orientação de Antoine Sibertin-Blanc, e pelo Conservatorio Superior de Música de Aragón, em Saragoça, onde estudou com José Luis González Uriol, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian. É também doutorado em Música e Musicologia pela Universidade de Évora, tendo defendido, sob a orientação de Rui Vieira Nery, uma tese sobre a música portuguesa para órgão no final do Antigo Regime. Tem mantido uma intensa atividade a nível internacional, como concertista, musicólogo, docente em cursos de aperfeiçoamento organístico e membro de júri de concursos de interpretação. 

No órgão de coro estará André Ferreira. É licenciado em Órgão pelo Real Conservatório de Amesterdão, onde estudou com Jacques van Oortmerssen, tendo igualmente a oportunidade de trabalhar com Pieter van Dijk. Concluiu o mestrado em Órgão na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML), sob a orientação de João Vaz. Presentemente, é doutorando em Musicologia na Universidade Nova de Lisboa. Iniciou os seus estudos de órgão com António Esteireiro no Instituto Gregoriano de Lisboa, continuando posteriormente com Jos van der Kooy no Conservatório de Haia. O gosto pela Música Antiga levou-o ao estudo de oboé barroco, com Maria Petrescu, sendo presentemente aluno de licenciatura da classe de Pedro Castro, na ESML. Como solista ou integrado em diversos agrupamentos musicais, já efetuou recitais em Portugal, Espanha, Itália e Holanda. Colabora como organista com a Paróquia de São Tomás de Aquino e com a Paróquia de Santa Maria de Belém (Mosteiro dos Jerónimos) em Lisboa. No ano letivo 2016/2017 lecionou no Conservatório Regional de Ponta Delgada, Açores. É professor de Órgão no Conservatório de Música de Mafra. É licenciado em Matemática Aplicada e Computação pelo Instituto Superior Técnico.

Nos concertos deste sábado e domingo, atua também o Ars Lusitana, um ensemble de constituição variável dedicado à investigação e recuperação do património musical português. Fundado em 2011 por Maria Bayley, o ensemble propõe um diálogo direto com as fontes: uma investigação inicial que visa trazer à luz música pouco conhecida ou negligenciada, passando pela investigação de contextos, métodos pedagógicos históricos e, sempre que possível, a leitura diretamente das fontes musicais; e terminando na performance em concerto de música portuguesa, por vezes apresentada em paralelo com repertórios contemporâneos de outros países europeus. Ars Lusitana apresentou-se em concerto em vários países, em festivais como o ciclo Música Antica da Camera (Voorschoten, Países Baixos), o ciclo de Música Antiga da Catedral de Valência (Espanha), o ciclo "Art et Leonhard" (Basileia, Suíça), o ciclo Sons Antigos a Sul (Lagos, Portugal), entre outros. Apresentou programas variados, tendo feito a sua estreia no âmbito do 400º aniversário da morte de Tomás Luis de Victoria (c.1548-1611), interpretando o seu Ofício de Defuntos, e contrastando com programas camerísticos, incluindo intabulações e madrigais portugueses, espanhóis e italianos. O ensemble tem também como missão desenvolver atividades pedagógicas, tendo realizado dois workshops em Portugal (Lisboa e Lagos) centrados em música renascentista - um sobre a missa Sine Nomine de Pedro de Escobar (c.1465-d.1535), e o outro sobre o Ofício de Defuntos do mesmo autor.

Finalmente, Isaac Alonso de Molina, que vai dirigir o Ars Lusitana, é professor no Conservatório Real de Haia (ensinando disciplinas de carácter prático ao teclado e vocal do ramo central da licenciatura e mestrado em música antiga, desde a Alta Idade Média ao período Barroco), e fundador e diretor do ensemble La Academia de los Nocturnos (centrado em música espanhola renascentista e barroca). Depois de uma ampla formação em música clássica, obtendo licenciaturas no Conservatório de Valência em quatro diferentes áreas (piano, violoncelo, música de câmara e teoria da música), mudou-se para Haia (Países Baixos) para estudar música antiga em 2007. Licenciou-se em cravo com Jacques Ogg e obteve um mestrado em técnicas de direção históricas (maestro di cappella / maestro al cembalo), sob a orientação de professores como Peter van Heyghen, Fabio Bonizzoni e Ton Koopman. Colabora frequentemente com ensembles tais como Cantores Sancti Gregorii, La Danserye e Ars Lusitana. Presentemente, encontra-se a desenvolver métodos de ensino historicamente informados e estratégias de aprendizagem, de forma a que os alunos possam adquirir um leque de competências tais como as esperadas de um músico no passado. Ensina no Curso de Música Antiga de Urbino desde 2019, e no Curso de Música Antiga de Pastrana organizado pela Academia de Polifonia Espanhola desde 2018.