Guerra na Ucrânia pode ser "bênção" pelo investimento em energias verdes
O responsável da agência meteorológica da ONU referiu esta terça-feira que a guerra na Ucrânia "pode ser vista como uma bênção" para o clima, porque está a acelerar o desenvolvimento e investimento em energias verdes a longo prazo.
As declarações de Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), surgem num momento em que o mundo enfrenta desafios crescentes nas necessidades de energia, devido em parte às sanções económicas contra a Rússia, importante produtor de petróleo e gás natural.
Os combustíveis fósseis estão atualmente num momento de alta procura, tendo também aumentado o seu preço.
Mas os preços crescentes de combustíveis que expelem carbono, como petróleo, gás e carvão, também tornaram as energias renováveis mais caras, como a solar, eólica e geotérmica, mais competitivas no mercado de energia.
A crise de energia levou também muitos grandes países consumidores na Europa, e não só, a iniciarem medidas de poupança, e em alguns locais têm surgido conversas sobre um possível racionamento.
Petteri Taalas reconheceu que a guerra na Ucrânia foi um "choque para o setor energético europeu" e provocou um aumento no uso de energias fósseis.
"Na escala de tempo de cinco a 10 anos, está claro que esta guerra na Ucrânia acelerará o nosso consumo de energia fóssil e também está a acelerar a transição verde", referiu Taalas.
"Então, vamos investir muito mais em energia renovável, soluções de economia de energia", e alguns reatores nucleares de pequena escala provavelmente entrarão em operação até 2030 como "parte da solução", acrescentou, citado pela agência Associated Press (AP).
Para o responsável da OMM, "do ponto de vista climático, a guerra na Ucrânia pode ser vista como uma bênção".
O secretário-geral da ONU, António Guterres, e outros líderes da ONU têm repetidamente alertado "que, além dos trágicos impactos humanos, o conflito ressalta os custos crescentes do vício mundial em combustíveis fósseis e a necessidade urgente de acelerar a mudança para as renováveis, para proteger as pessoas e o planeta".
Taalas falava após a divulgação pela OMM de um novo relatório, que refere que o fornecimento de eletricidade através de fontes mais limpas de energia precisa de duplicar nos próximos oito anos, para conter o aumento do aquecimento global.
O mais recente relatório anual "State of Climate Services", baseado em contribuições de 26 organizações diferentes, concentra-se este ano na energia.
O secretário-geral da OMM frisou que o setor de energia é atualmente responsável por cerca de três quartos das emissões de gases de efeito estufa que retêm o calor e pediu uma "transformação completa" do sistema global de energia.
Petteri Taalas alertou que as alterações climáticas estão a afetar a produção de eletricidade, o que pode ter um impacto crescente no futuro.
Entre os riscos estão as centrais nucleares, quer as que dependem da água para o arrefecimento e que podem ser afetadas pela escassez de água, e as que estão localizadas em áreas costeiras, vulneráveis à subida do nível do mar ou a inundações.
No seu relatório, a OMM observou que, em 2020, cerca de 87% da eletricidade global gerada a partir de sistemas térmicos, nucleares e hidrelétricos -- que produzem menos CO2 do que as centrais movidas a combustíveis fósseis -- dependiam da disponibilidade de água.