Solidariedade, Comunidades, República e a TAP
1. Solidariedade em tempos de tragédia
Durante a visita do Senhor Presidente do Governo Regional a dois países da Diáspora Madeirense, que nos levava primeiro ao Curaçau e depois para a Venezuela, fomos surpreendidos por uma tragédia que atingiu o nosso país irmão.
Em Las Tejerías, o estado venezuelano de Aragua, as chuvas torrenciais provocaram uma súbita subida do caudal dos rios, originando uma enxurrada. Entre as já confirmadas 36 vítimas mortais, há uma madeirense, e no rasto de destruição causado pela força das águas, vários negócios de madeirenses que foram afetados.
Às famílias das vítimas apresento os meus sentimentos. Aos nossos irmãos que foram afetados pelas cheias, deixo-vos uma palavra de esperança.
Sabemos bem o que são enxurradas e os efeitos devastadores que podem ter. Em breve, o Senhor Presidente do GR e eu estaremos em las Tejerías, para, no local, enviar uma palavra de alento, de esperança e de conforto e levar um abraço fraterno a toda a Comunidade.
2. Venezuela e Curaçau
Esta viagem à Venezuela, acontece por ocasião da consagração da réplica do Santuário de Fátima, em Los Altos Mirandinos, construída ao longo de 14 anos, quase exclusivamente a expensas da nossa Comunidade. Um investimento de 9 milhões de euros, 90% dos quais oriundos de donativos da própria Comunidade.
Ao longo de todos estes anos, homens e mulheres, com grande resiliência, sacrifício, trabalho, sem desânimos e com muita vontade e devoção, ergueram este templo.
Representa, esta obra, a essência da nossa Comunidade na Venezuela, que nunca desiste e acredita em si mesma, por maiores que sejam as dificuldades. Depois dos últimos acontecimentos em Las Tejerías, acredito que seremos capazes de ultrapassar mais este revés.
Entretanto, porque já se impunha, e dada a proximidade com a Venezuela, a visita inicia-se no Curaçau, durante dois dias, na ilha que acolheu imensos madeirenses, na muito conhecida fábrica da Shell. Hoje, são cerca de 3.500 madeirenses que constituem uma Comunidade que já não era visitada há 25 anos.
3. África do Sul e a TAP
A TAP foi distinguida esta semana pela World Travel Awards (WTA) como a ‘Companhia Aérea Líder para África’ 2022. Curiosamente, a TAP – agora detentora de tamanhas honrarias – não voa para a África do Sul há mais de 12 anos.
Este não é um destino africano qualquer. A África do Sul, o país mais desenvolvido do continente africano, acolhe uma das maiores comunidades portuguesas em todo o mundo, composta por mais de meio milhão de pessoas, a maioria originária da Madeira.
É um escândalo que a companhia aérea de bandeira portuguesa continue de costas voltadas para os portugueses e lusodescendentes que querem viajar entre Portugal e a África do Sul, seja para visitar familiares e a terra Natal, seja para fazer negócios.
Mais escandalosa ainda é a postura do Estado Português que, apesar de deter a maioria do capital da TAP, continua a dar guarida a uma empresa que não cumpre com os serviços mínimos a que é obrigada: servir o país; servir os portugueses, os que residem em Portugal Continental, nas Ilhas e na Diáspora.
Enquanto isso outras companhias aéreas internacionais, nomeadamente a Qatar, a Fly Emirates, a Britihs Arways, a Swiss, a Lufthansa e até a Air Belgium já estão a fazer a ligação para a África do Sul.
4. Direto Caracas
Esperemos que, finalmente, a 30 de Outubro, o prometido voo direto Caracas-Funchal seja uma realidade para bem da nossa Comunidade, que merece o nosso maior respeito e reconhecimento.
A 26 de Julho foram anunciados 12 voos diretos entre Caracas e o Funchal. O voo inaugural seria a 21 de Agosto. De Agosto foi adiado para Setembro. De Setembro para 16 de Outubro, e, após o mais recente cancelamento, passou para 30 de Outubro. Ou seja, em apenas dois meses, esta operação já foi adiada quatro vezes, defraudando as expetativas de uma imensa Comunidade que anseia pelo regresso desta ligação.
De adiamento em adiamento, os 12 voos, charters e não regulares – sublinhe-se – , entre Caracas e o Funchal, anunciados para o período Agosto 2022 a Janeiro 2023, na melhor das hipóteses, agora, serão apenas seis. Isto tudo inserido numa operação experimental levada a cabo por uma companhia aérea privada.
Uma comunidade com a dimensão da Venezuela não tem de estar sujeita a ligações aéreas experimentais. A comunidade portuguesa radicada na Venezuela é, a par da sul-africana, a maior da Diáspora, com mais de 500 mil madeirenses e descendentes de madeirenses.
Continuo a defender que deveria ser a TAP a fazer a ligação regular entre a Venezuela e a Madeira. Se a companhia de bandeira já faz a rota Lisboa-Caracas, nada mais justo do que fazer uma escala semanal na Madeira, pois a maioria dos seus clientes são oriundos da nossa ilha, o que aliás já aconteceu há alguns anos atrás.
Não esqueçamos: as Comunidades radicadas na Venezuela e na África do Sul já deram e continuam a dar muito a Portugal e a Madeira.