Bipolaridades
Janeiro e Porto Santo
Estamos em janeiro e incompreensivelmente, ou não, a ligação marítima entre a Madeira e o Porto Santo é mais uma vez interrompida. O pequeno ferry que assegura a ligação entre as duas ilhas há largos anos, vai para a sua necessária e habitual manutenção anual. Serão cerca de 36 longos dias em que as duas ilhas ficam sem transporte marítimo regular. A pergunta que importa é fazer é: é admissível que a população do Porto Santo fique todos os anos nesta situação, diminuída do seu direito de mobilidade? A resposta é óbvia. É evidente que não. Outras perguntas se perfilam imediatamente. Porque razão, é a população do Porto Santo sujeita a esta discriminação, que atenta contra os seus direitos? Porque razão, a população do Porto Santo aceita esta repetida discriminação com um silêncio que é contrário a uma Democracia? Porque razão, o governo regional reclama do governo da república, nomeadamente da TAP (Transportadora Aérea Nacional), e depois trata o Porto Santo da mesma forma que se queixa que é tratado, isto é, não favorece a mobilidade da população da Ilha Dourada, condenando a maioria da sua população ao isolamento? Deixo a reflexão e respostas para o povo (“superior”).
Eleições Parlamento Nacional
Mais uma vez o povo da Região Autónoma da Madeira (RAM), vai votar para a eleição dos deputados pelo círculo eleitoral da Madeira para a Assembleia da República (AR). E porque há imenso ruído de fundo que impede que a grande maioria dos cidadãos entenda o que está em causa, proponho-me seguidamente prestar alguns esclarecimentos. Em primeiro lugar, há que tornar claro que os deputados eleitos pelo círculo eleitoral da Madeira, não são eleitos para defenderem a Madeira, mas antes, para que a Madeira esteja representada nas decisões que afetam todo o país. Isto é, na RAM, tal como nos outros círculos eleitorais de todas as regiões do país, os deputados são eleitos para a AR como deputados da nação e assim participarem e contribuírem nos projetos de interesse nacional, e como tal, de qualquer zona do país. A RAM, tal como os outros círculos eleitorais do país estão presentes, como parte integrante do território nacional e assim darem o seu contributo para a nação. Claro que sendo eleitos pelo círculo eleitoral Madeira terão obrigatoriamente de ter uma sensibilidade especial para os problemas existentes na RAM. Propagandear, como é prática reiterada desde sempre, que os eleitos deste ou daquele partido, se forem eleitos, vão estar na AR para defender os interesses da Madeira, não é totalmente sério e se não fosse estratégia, até soaria a doentio. É o lançar de areia para os olhos do povo, apelando mais uma vez às suas mais básicas emoções, o qual, desprovido de espírito crítico, vai na onda. É que este, não tendo percecionado que há muita vida, diferença e variedade além-mar, vive numa caverna e julga que é feliz e habita o paraíso. Ora este tipo de discurso é altamente prejudicial à Madeira e às suas humildes e trabalhadoras gentes e integra-se na narrativa propagandística da supremacia regional, quando na realidade não é mais do que tapar o sol com a peneira. Se os deputados da Madeira estivessem na AR para de modo estanque, apenas defenderem os interesses da Madeira, bastaria lá irem pouco mais de meia dúzia de vezes, pois numa legislatura de 4 anos provavelmente não se fala da Madeira mais do que isso. Poupávamos todos dinheiros públicos e ficaríamos dispensados de ouvir inúmeras atoardas. A resolução da esmagadora maioria dos problemas da RAM resolve-se, ou deveria resolver-se, na assembleia legislativa da Madeira, pois é para isso que ela existe. Claro que há “meia dúzia” de dossiers importantes para a RAM que só na AR se podem resolver, como seja o assegurar da continuidade territorial, por via aérea e marítima, a revisão da lei das finanças regionais, os impedimentos no centro internacional de negócios da Madeira, a discussão e aprovação de um sistema fiscal próprio, o financiamento da Universidade da Madeira, etc. Mas em boa verdade, estes assuntos só serão resolvidos se houver entendimento entre os governos da república e regional, e aí, o papel a desempenhar pelos deputados eleitos pelo círculo eleitoral da Madeira à AR pouco mais (é) será do que figuração.