Governo da Venezuela exige que Alex Saab seja libertado para retomar o diálogo com a oposição
O Governo venezuelano condicionou uma eventual retoma do diálogo com a oposição à libertação do empresário colombiano Alex Saab, detido nos EUA por suspeita de lavagem e dinheiro e tido como testa-de-ferro de Nicolás Maduro.
"Querem diálogo? Libertem Alex Saab para que se incorpore à mesa de diálogo com as 'oposições' venezuelanas", disse Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional (AN), organismo dirigido por apoiantes do regime e onde o chavismo detém a maioria.
Jorge Rodríguez falava, quarta-feira, durante a instalação do período de sanções da AN, onde acusou a oposição, aliada do ex-presidente do parlamento, Juan Guaidó, de "roubar" dinheiros e ativos da Venezuela.
"Parem de roubar os dinheiros que não lhes pertencem e devolvam ao povo da Venezuela o que roubaram. Os ativos que estão roubando, o ouro de Inglaterra, Monómeros e Citgo (filiais da petrolífera estatal na Colômbia e nos EUA)", disse o político.
Jorge Rodríguez sublinhou ainda que "se quem diálogo, reconheçam que cometeram um gravíssimo erro e cometeram crimes contra a República Bolivariana da Venezuela".
O presidente da NA, começou por dizer que "basta de hipocrisia com o tema do diálogo" e que o regime foi à Mesa de Dialógo (em 2021, no México) "de coração 'limpo', como temos ido a todos os processos de diálogo que conformámos com setores da oposição venezuelana".
"Mas não devem ir a um diálogo e depois sabotar esse mesmo diálogo internamente. Não proponham um diálogo para depois, de maneira intestina, atacá-lo diretamente, como fez o Primeiro-Ministro da Noruega, como fez o Departamento de Justiça dos EUA, que cometeu a barbaridade de raptar um representante diplomático da Venezuela, o nosso diplomata Alex Saab, que é também um representante direto e membro de pleno direito da delegação (governamental) na Mesa do Diálogo no México", disse.
Segundo Jorge Rodríguez "não há diálogo com hipocrisia" apesar de que "um diálogo pode ser profundamente positivo para uma República, se for feito com um coração puro".
O político venezuelano questionou como é possível sentar-se a negociar com representantes de uma oposição e dizer-se que precisam de chegar a um acordo para comprar vacinas, mas "o chefe dessa delegação meteu na algibeira 382 milhões de dólares (337,1 milhões de euros) e diz que não há um centavo para comprar vacinas".
"Então, para quê? Se querem diálogo, respeitem!", sublinhou.
Em 17 de outubro de 2021, o Governo venezuelano suspendeu as negociações com a oposição que decorriam desde agosto de 2021 no México com a mediação da Noruega.
A suspensão teve lugar um dia após a extradição, de Cabo Verde para os EUA, do empresário colombiano Alex Saab, considerado testa-de-ferro do Presidente Nicolás Maduro.
"Em virtude desta ação extremamente grave, a nossa delegação anuncia que suspende a sua participação na mesa de negociações e diálogo (...) como expressão profunda do nosso protesto perante a agressão contra a pessoa de Alex Saab", anunciou o presidente do parlamento, Jorge Rodríguez.
O anúncio foi feito através de um comunicado, lido por Jorge Rodríguez no Palácio Federal Legislativo, em que acusou os EUA de agredir a Venezuela e disse que a vida de Alex Saab está em risco.
"Esta ação ilegal e desumana constitui um novo ato de agressão dos EUA contra a Venezuela, dado que Alex Saab foi incorporado como membro de pleno direito no processo de diálogo e negociação. A Venezuela alerta o mundo que a vida de Alex Saab está em perigo nas mãos de um sistema judicial instrumentalizado para atacar a Venezuela", afirmou Jorge Rodríguez.
Alex Saab, 49 anos, foi detido pela Interpol e pelas autoridades cabo-verdianas em 12 de junho de 2020, durante uma escala técnica no Aeroporto Internacional Amílcar Cabral, ilha do Sal, com base num mandado de captura internacional emitido pelos EUA, numa viagem para o Irão em representação da Venezuela, com passaporte diplomático, enquanto 'enviado especial' do Governo venezuelano.
A sua detenção colocou Cabo Verde no centro de uma disputa entre o regime do Presidente Nicolás Maduro, na Venezuela, que alega as suas funções diplomáticas aquando da detenção, e a Presidência norte-americana, bem como irregularidades no mandado de captura internacional e no processo de detenção.
Washington pediu a sua extradição, acusando-o de branquear 350 milhões de dólares (295 milhões de euros) para pagar atos de corrupção do Presidente venezuelano, através do sistema financeiro norte-americano.