Ambiente eleitoral
Nada de novo nas propostas pelo que o ambiente eleitoral é muito de eleitoral e pouco de ambiente
Apesar de ainda não serem conhecidos todos os programas eleitorais nem estarem disponíveis todos os detalhes dos que entretanto foram divulgados, uma primeira leitura permite-nos verificar a escassa importância que é dedicada à temática ambiental e, em particular, no que respeita à conservação da natureza e biodiversidade. Este facto revela-se como absurda contradição em dois domínios. Num primeiro nível porque contraria a dialética e importância que os sistemas naturais merecem nos períodos entre eleições e, em segundo lugar, porque diminui a bondade e efectividade de algumas das mais importantes sugestões e sectores que embrulham o pacote tradicional das campanhas eleitorais.
É difícil explicar a ausência de considerações (e propostas visíveis e quantificáveis) sobre o papel dos sistemas naturais relativamente à disponibilização de serviços e matérias primas fundamentais para o desenvolvimento socioeconómico ou do quanto e onde se irá investir em restauração de sistemas naturais degradados com vista à reposição de elementos paisagísticos, identitários, culturais, de gestão de recursos vitais como o solo e a água, tão essenciais para o bem estar e desenvolvimento das pessoas. Pouco ou nada se vê relativamente à valorização dos espaços naturais, à reforma do sistema de classificação e instrumentos de gestão de áreas protegidas que foram há muito ultrapassados pela realidade, ou que nunca funcionaram nem foram sequer passíveis de avaliação. Continuaremos a ouvir as vagas, mas sempre oportunas e úteis, referências ao valor intrínseco, à beleza estética e à importância para o turismo, e pouco mais, porque, de novo, nada é proposto.
A saúde e a economia, centrais em qualquer programa, não beneficiariam de um melhor ambiente e, em particular de uma natureza melhor protegida e melhor utilizada, reforçando as condições de base do bem estar e desenvolvimento socioeconómico, a montante?. Mais dinheiro na promoção da saúde em vez de no tratamento da doença, neste caso da espécie humana, mas também do ambiente em que ela prospera, não seria um caminho porventura inteligente e duradouro?.
O tanto que se clama aquando das cimeiras internacionais associadas ao ambiente, clima, biodiversidade e afins, não encontra eco nem respaldo nestes momentos de promessa e expectativa. Este deveria também ser um momento de reflexão sobre a responsabilidade de quem não se propõe fazer em casa aquilo que depois exige que seja feito globalmente. Existe ainda uma enorme distância entre o clamor e energia das manifestações extremadas em favor de um melhor ambiente, greves, ativismo espectacular, a informação disponível sobre a degradação ambiental e as consequências directas sobre a saúde e economia, a julgar pela pouca importância que as propostas agora submetidas aos portugueses conferem a estas matérias. Nada de novo nas propostas pelo que o ambiente eleitoral é muito de eleitoral e pouco de ambiente.