Artigos

O Táxi sem clientes

No distante verão de 1987, Cavaco Silva ganhava as eleições com uma maioria arrasadora, ofuscando toda a oposição, CDS incluído. Na altura, o líder Adriano Moreira teve 250 mil votos, correspondendo a quatro deputados. Os mesmos que um táxi poderia transportar para as escadarias do Parlamento. Nasceu aí a famosa expressão, o “Partido do Táxi”.

Agora, Francisco Rodrigues dos Santos mereceu a confiança de 80 mil portugueses, mas não elegendo nenhum deputado. Nem ele próprio será deputado. Com desalento, dir-se-á, o CDS é agora um partido do táxi… sem clientes.

Sendo um partido fundador da democracia em Portugal, com gente competente, com inúmeras responsabilidades governativas e municipais, com responsabilidades europeias, a questão que hoje se coloca é saber o porquê desta hecatombe?

Na minha humilde opinião é, em primeiro lugar, um problema de Desunião.

O CDS foi sempre ao longo da sua história um ponto de sã convivência entre três tendências: os Democratas-cristãos, na linha de outras forças congéneres europeias, os Conservadores democratizados sobreviventes da nefasta experiência do Estado Novo e, finalmente, os Liberais (nos quais me incluo), brandos nos costumes, na liberdade económica e, historicamente, absolutamente europeístas.

O sucesso eleitoral aconteceu sempre que houve união e tolerância no partido e quando houve seleção e respeito pelos mais competentes. Mas isso acabou. Francisco, “Chicão”, transformou a liderança num nicho de conservadorismo tradicionalista, algo na linha do pensamento da Opus Dei. Capta muitos, mas afasta muitos mais.

Em segundo lugar, um problema de Incoerência.

Ao contrário do PSD, que respeitou na letra e na prática as preces da democracia interna, realizando o congresso a tempo e horas, elegendo um líder legitimado para ir às eleições, “Chicão” desrespeitou as decisões dos órgãos internos. Forçou uma liderança sem legitimidade democrática.

Mais, por todo o país as escolhas não recaíram sempre nos mais competentes, credíveis e influentes. Pior ainda, dirigentes financeiros do partido aceitaram financiamento do Chega, à revelia das contas do partido. Tudo mancha a candura da toalha e o povo é implacável no seu juízo.

Finalmente, há um problema de Modernidade.

O CDS deixou de ser apelativo. De cativar os jovens menos atentos à política. De enamorar os “opinion leaders”. Não sabe comunicar como Paulo Portas nos ensinou. E parece não saber o que é sustentabilidade ambiental. Do que é o respeito pela diferença. Esquecemos que esta Nação dura há oito séculos porque soubemos aturar-nos uns aos outros, sem grandes intolerâncias culturais, sociais e religiosas.

O resultado para a direita é ainda mais lancinante pela desilusão eleitoral do PSD (Madeira e Açores incluídos), pela fragmentação de votos que não gera tantos deputados e pelo sucesso do Chega, com a sua “apatriótica” xenofobia.

António Costa foi o mestre da argúcia, a mesma que falta aos líderes da direita. Venceu todas as sondagens, todos os astrólogos e cartomantes. Reinará supremo e agora livre da geringonça.

Costa foi hostilizado na Madeira e agora far-nos-á o que bem entender. Preocupante, pois, as autonomias enfrentam as sequelas socioeconómicas da pandemia, juros crescentes que penalizam muito as regiões mais endividadas, em tempos de incertezas energéticas imprevisíveis, inflação galopante, ventos de guerra e mais crises migratórias na Europa. Mas as prosas sobre a Madeira merecem um capítulo à parte. Ficam para depois.