Editorial

Facilitem-nos a vida!

O povo é soberano e decidiu devolver ao PS a missão de governar Portugal com estabilidade, responsabilidade acrescida e sentido de Estado. Houve margem para devaneios, experimentalismos e ficções, aventureirismos legítimos que penalizaram sobretudo a direita tradicional, mas é com António Costa - que conquistou o que pediu, a maioria absoluta - que o País e a Região terão que entender-se de forma civilizada se é que querem superar crises, resolver problemas e fintar ameaças, mau grado os prometidos contenciosos e outros registos radicais, mesmo que declarados antes do grande vencedor da noite ter garantido que vai “respeitar as competências próprias das Regiões Autónomas”. De nada valerá ao intitulado “contundente” PSD madeirense - que tenciona continuar a viver amigado com o extinto CDS, sem que de tal união resulte qualquer vantagem competitiva -, cantar vitória doméstica e manter uma tensão inconsequente com a República. Urge uma nova postura no relacionamento institucional, também a pensar na cidadania inconformada com a teimosia persistente. Para tal, basta interpretar com humildade os resultados locais que, em rigor, por ditarem um empate a três mandatos, manifestam o desejo inequívoco de cooperação entre as partes, para que ganhemos como um todo. Basta pensar mais nos dramas comuns do que nos interesses pessoais ou no argumentário a usar no próximo ciclo eleitoral. Basta ter lucidez, espírito negocial e frontalidade construtiva, mudando, caso seja necessário, os interlocutores, optando pelos mais ponderados, retirando de cena os que gritam sem que se façam ouvir. Vencida a incerteza que pairou no horizonte nos últimos meses, é hora de dialogar, de unir esforços e de traçar rumos. O povo agradece a renovada oportunidade para manifestar o que lhe vai na alma, mas pede encarecidamente a todos os que ontem foram eleitos que:

. Respeitem a vontade higienizada depositada nas urnas e cumpram com a palavra dada, a mesma que gerou as opções conscientes e maduras, esclarecidas e decididas, mesmo que outras tenham sido meramente clubísticas, de circunstância ou de simpatia.

. Trabalhem com seriedade para que, por exemplo, nenhum diploma fique na gaveta durante a legislatura, sobretudo aqueles que humilham contribuintes, não asseguram a continuidade territorial e bloqueiam a iniciativa e os talentos.

. Zelem pelo interesse nacional, pela prosperidade colectiva e pelos direitos dos trabalhadores, para que ninguém seja vítima da indiferença que marginaliza e que por vezes mata.

. Façam o melhor em cada dia, sejam transparentes nos procedimentos e escrutinem sem receio os poderes.

. Procedam urgentemente à revisão da Lei Eleitoral num Portugal que se quer moderno, inovador e digital. Não queiram ficar para a história como os preguiçosos do regime que impedem o voto de metade dos inscritos.

. Facilitem a vida aos portugueses em geral e aos madeirenses em particular. Como? Sendo solidários com as causas das gentes de cada lugar e com os projectos de interesse comum. Sendo activos na denúncia daquilo que deturpa as realidades e acentua assimetrias. Tendo pachorra para intervir, o que implica sair do sofá e de outras zonas de conforto.

. Tenham elevação no debate parlamentar, que deve estar mais focado na resolução dos problemas comuns do que nos ódios de estimação.

. Cultivem a proximidade em relação aos eleitos, com regular atenção às perturbações que a governação vai gerando, o que é bem distinto das conferências de imprensa que justificam viagens, mas não contribuem para a esperança.

. Sejam honestos, competentes e empreendedores, de modo a que conquistem notoriedade e credibilidade. Se há coisa que não leva a lado nenhum é o conflito permanente ou a esperteza provinciana. Haja por isso humildade porque sobranceria temos que chegue, sobretudo nesta ilha com renovados sinais de preocupação, mas que insiste nas velhas e derrotadas fórmulas.