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Alunos madeirenses no “Quadro negro” em termos da Leitura

É urgente ensinar explicitamente a compreender através da aplicação de estratégias

Vários estudos que foram realizados internacionalmente e a nível nacional têm revelado a existência de problemas significativos em termos da leitura nos alunos portugueses.

Portugal integrou o estudo PISA (Program for International Student Assessment) e participou em todos os ciclos deste estudo até à presente data: 2000, 2003, 2006, 2009, 2012, 2015, 2018, 2021. Foram incluídas escolas da Região Autónoma da Madeira e dos Açores, onde participaram os alunos com 15 anos de idade. No ano 2000 participaram 32 países, tendo ficado a Finlândia em 1.º lugar e Portugal em 27.º lugar em termos de resultados de leitura.

Os resultados do PISA 2000 revelaram que os alunos madeirenses obtiveram 425 pontos, sendo esta uma pontuação que se situa abaixo da média a nível nacional (470) e da média da OCDE (500). Já os estudos PISA 2003, 2006, 2009 e 2012 não clarificam os resultados obtidos na literacia em leitura dos alunos desta região autónoma, apresentando apenas os resultados obtidos a nível nacional. No estudo PISA 2015, o desempenho médio dos alunos madeirenses situou-se nos 487 pontos, menos 11 pontos que a média nacional e 6 pontos abaixo da média dos países da OECD (OECD, 2015, 2016). Por conseguinte, na edição de 2015 verificou-se uma ligeira melhoria comparativamente aos resultados obtidos no PISA 2000.

Em relação ao estudo PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study ) realizados em 2011, os alunos da Região Autónoma da Madeira não participaram neste estudo. Contudo, na participação em 2016 obtiveram 518 pontos, pontuação abaixo da média nacional.

A nível nacional, as provas de aferição foram pela primeira vez aplicadas na Região Autónoma da Madeira no ano letivo 2006/2007, a alunos de 4.º ano de escolaridade, revelando 9.6% de negativas. Desde essa data, o desempenho dos alunos no que respeita à leitura tem sido muito frágil.

No ano letivo 2007/2008, a taxa de insucesso na prova de aferição de Língua Portuguesa foi de 10.5% a nível nacional e na Região Autónoma da Madeira foi de 9.9%.

Em 2008/2009, a percentagem de insucesso na prova de aferição de Língua Portuguesa foi de 9.8% a nível nacional e de 8.7% na Região Autónoma da Madeira.

No ano letivo 2009/2010, a classificação média em termos percentuais do desempenho global dos alunos em Língua Portuguesa na Região Autónoma da Madeira foi de 50.5% e a nível nacional situou-se nos 69.8%. Os alunos madeirenses continuaram a patentear os resultados mais baixos do nosso país.

Em 2010/2011, a média dos resultados obtidos na Prova de Aferição de Língua Portuguesa a nível nacional foi de 69% e na Região Autónoma da Madeira foi de 57.04%.

No ano letivo 2011/2012, na Prova de Aferição de Língua Portuguesa, o desempenho dos alunos em Língua Portuguesa situou-se nos 66%, notando-se uma ligeira melhoria na Região Autónoma da Madeira no aproveitamento em Língua Portuguesa no 1.º ciclo.

Em 2012/ 2013 foram introduzidos exames de final de ciclo. No que respeita ao 1.º ciclo, a média nacional em Português foi negativa, com 48.7% dos alunos apresentando valores inferiores aos mínimos exigidos e na Região Autónoma da Madeira, verificaram-se resultados semelhantes, situados nos 46.03%.

No ano letivo 2013/2014, a taxa de sucesso dos alunos em Português foi de 62.2% a nível nacional e na Região Autónoma da Madeira foi de 62.3%.

Já no ano letivo 2014/2015, a média dos resultados obtidos em Português a nível nacional era de 65.6 % e na Região Autónoma da Madeira situou-se em 66.9%.

Em 2015/2016, as provas de aferição no 1.º ciclo passaram, pela primeira vez, a ser destinadas a alunos de 2.º ano, abrangendo todas as áreas do Currículo. Em 2016, os alunos do 2.º ano manifestaram muitas dificuldades em refletir sobre o conteúdo do texto que leram.

No ano seguinte – 2016/2017 – a taxa de retenção no 1.º ciclo registou um grande decréscimo, situando-se nos 3.0%, o que representa uma redução de cerca de 40% relativamente a 2014. Todavia, no 2.º ano esta taxa foi de 7.4%.

Em 2017/2018, na prova de aferição de Português no 2.º ano, apenas 25% dos alunos realizaram, com sucesso, as tarefas de leitura propostas. Na Região Autónoma da Madeira a taxa de retenção foi de 2.9% no 1.º ciclo e de 6.9% no 2.º ano de escolaridade. A nível nacional, a taxa de retenção foi de 5.0% (DGEEC, 2018) e no 2.º ano teve um aumento de 0.2% comparativamente a 2016/2017, passando a 7.6%.

Em 2021, foram realizadas essas provas, não se obtendo ainda os resultados das mesmas.

Verificou-se que na Região Autónoma da Madeira, os resultados obtidos na disciplina de Português nestes estudos, nas provas e nos exames retratam, de modo clarividente, os piores resultados a nível nacional em termos de leitura, tornando-se imperioso que se pense em soluções. Como tal, é urgente ensinar explicitamente a compreender através da aplicação de estratégias cognitivas e metacognitivas e de programas de compreensão da leitura não só na escola como no seio familiar. Só assim ajudar-se-ão os alunos madeirenses a ultrapassar as dificuldades na leitura e consequentemente a retratar um quadro mais claro, mais branco, ao invés do “quadro negro” que nos marca na literacia da leitura em termos do panorama nacional.