Crónicas

O potencial e as circunstâncias

É a conjuntura uma das variáveis que determinam o potencial e a procura mas também as condições que se criam pelos governos e as suas populações

No final de Dezembro, por conta da minha atividade profissional, tive a oportunidade de me cruzar em Lisboa com dois turistas , de idades bem diferentes e com objectivos determinados para as suas viagens. Um inglês, que devia ter perto de 70 anos, fazia escala de um dia para ir jogar golfe ao Algarve, o segundo, um israelita que não devia ter mais do que 35 e que veio para dar a conhecer o destino através da sua plataforma de notícias para a aviação do seu país. Curiosamente ambos me falaram da Madeira como um desejo e percebi inclusivamente que sabiam do que estavam a falar. O primeiro porque o grupo de amigos com quem tinha vindo já havia sugerido um torneio de golf na ilha para uma próxima oportunidade, pelo clima ameno e pela oportunidade de compensar a mulher com dois dias de praia no Porto Santo. O segundo pela natureza, havia lido sobre os trilhos e as levadas fantásticas, a dicotomia mar/montanha, os jardins e as florestas, confessou-me que estava nos seus planos incluir a nossa ilha que apelidou de “amazing” na viagem, mas achou um absurdo o preço do voo por essa altura ser mais caro de Lisboa para o Funchal do que lhe custou vir de Telavive até Lisboa e que por isso guardaria para uma próxima oportunidade.

O filósofo espanhol José Ortega y Gasset disse um dia “eu sou eu e as minhas circunstâncias”. Se não existe outra maneira de ver o mundo senão de uma forma dinâmica e em constante mutação, também os destinos estarão intrinsecamente ligados ao seu contexto num determinado momento. Basta para isso analisar a quebra abrupta de turistas e consequentemente de preços e a desvalorização de um determinado mercado quando se assiste a um clima de instabilidade por conta de uma guerra, de ações políticas ou até fenómenos naturais. É a conjuntura uma das variáveis que determinam o potencial e a procura mas também as condições que se criam pelos governos e as suas populações, aliados a razões de natureza histórica ou geográfica. É por isso um tempo em que se valoriza a qualidade de vida e o bem estar mas também onde as pessoas fazem as suas escolhas sustentadas por motivos de segurança e de saúde.

Já tive a sorte de poder fazer algumas viagens, umas mais próximas e outras mais longínquas, onde estão incluídas algumas ilhas e destinos paradisíacos. Na grande maioria deles onde vi beleza faltava alguma segurança e onde até senti segurança fui alertado para alguns perigos de saúde ou por via de doenças tropicais ou por falta de controlo da qualidade das águas ou de certos alimentos. A Região Autónoma da Madeira reune por isso condições únicas para ser ( até por força dessas mesmas circunstâncias ) uma escolha natural para o turista do presente e do futuro mas também para quem queira vir gozar a sua reforma num contexto que alia todos esses fatores ou para quem possa usufruir dessa nova forma de trabalho que permite com boa internet e um computador apresentar resultados mesmo à distância, independentemente de onde está sediado o cliente.

A Madeira e o Porto Santo, por todas as razões que enumerei às quais se soma a forma como têm sabido lidar com a pandemia de uma forma astuta e preventiva, representam em conjunto, um potencial tremendo que merece ser respeitado e acarinhado. É isso que espero que o nosso voto represente no dia de hoje. Independentemente dos resultados, que os políticos eleitos saibam valorizar as diferentes pessoas, que o crescimento económico e a produção no turismo através da rentabilização dos nossos recursos se façam acompanhar de um aumento real da qualidade de vida de quem cá vive e das condições que podemos apresentar a quem recebemos. Que não se esqueçam que as regiões ultraperiféricas merecem uma atenção especial até em virtude dessa mesma singularidade mas também porque representam um mar de oportunidades que não devem ser esquecidas nem desperdiçadas.

P.S. Regresso às páginas deste jornal porque tal como Ortega y Gasset “eu sou eu e as minhas circunstâncias”. Como disse D. António Marto bispo de Leiria-Fátima ( que será substituído pelo madeirense Dom José Ornelas, a quem aproveito para congratular ), “ há um tempo para falar e outro para estar calado”. Há também um tempo para respirar e outro para seguir em frente. “Um dia de cada vez”, aos domingos, cá estarei para dar a minha opinião sabendo que nem sempre estaremos de acordo mas que é através da critica construtiva e do confronto de ideias que crescemos e evoluímos.