As cores do Porto Moniz
A dicotomia cromática tem manifestações múltiplas, camadas várias e significados diversos. Preto e branco é a mais comum e remete à cabeça para as questões raciais, mas pode também cair para o campo da arte. Azul e vermelho para além de questões futebolísticas pode sugestionar uma revisitação ao tempo da Guerra Fria em que o mundo estava dividido em dois blocos. A religião também se pinta em cores distintas como na bandeira da Irlanda, com o verde dos católicos e o laranja dos protestantes.
Por aqui cresci numa Madeira bem tingida de laranja, mas hoje o meu Porto Moniz desenha-se em rosa. Deixo as considerações político-partidárias para outros escribas, mas fixo-me no meu concelho e nas suas cores. Era criança quando já se vendia que “ ir à Madeira e não visitar o Porto Moniz é como ir a Roma e não ver o Papa”. “Porto Moniz / Todo o ano /Visite-nos” foi o convite durante anos e muitos vestiram, literalmente, a camisola por esta terra. O Porto Moniz tem duas cores, sim. Mas não duas cores que se antagonizam, antes sim se complementam. São duas cores que devem estar na matriz da promoção do seu território.
Porto Moniz é azul. Possui uma costa que se estende desde o calhau que recebe a Ribeira da Cruz até ao outro extremo que acolhe a Ribeira do Inferno. Pelo meio, Calhau das Achadas e a sua Fajã da Quebrada Nova, Ponta do Tristão, toda a frente mar da própria Vila, foz da Ribeira da Janela, Fajã das Contreiras, Seixal e todas as suas praias e piscinas, o Véu da Noiva e o seu encontro com o Atlântico. Multiplicam-se os miradouros, os pontos de acesso ao mar, as oportunidades de comungar com a natureza o generoso azul que nos entrega todos os dias.
Porto Moniz é verde. Está na ziguezagueante estrada que nos leva até às Achadas da Cruz e saúda o rally todos os anos. Está no caminho rumo ao Paúl da Serra, ao virar às Portas da Vila. A levada da Ribeira da Janela é o verde que todos os madeirenses deveriam conhecer. O Fanal é o verde que dispensa apresentações. O Chão da Ribeira é daqueles tesouros que queremos guardar só para nós mas que não conseguimos manter em segredo porque é difícil não nos gabarmos de tamanha beleza luxuriante. Sim, o Porto Moniz tem a maior mancha de Laurissilva da Região. Tem levadas, veredas mas tem também o verde dos campos cultivados, o verde das vinhas ou o simplesmente inacessível.
Estas são referências óbvias e mais fáceis de enumerar, mas no jogo do azul e verde facilmente podem-se criar roteiros mais específicos, sugestões mais desafiantes e descobertas inesperadas. O canyoning é um bom exemplo, o pedestrianismo com manutenção efectiva todo o ano e indicações exactas dos (e nos) trilhos são uma mais-valia. Importa também reencontrar um pouco do azul que ficou mais “longe” com a Via Expresso 2, como no troço entre a Fajã das Contreiras e a Ribeira da Janela. O surf, a pesca lúdica ou o mergulho desportivo precisam que os pontos mais apetecíveis para estas práticas sejam também mais acessíveis, não significando isso que se reabra completamente a antiga estrada.
Hoje e sempre o Porto Moniz combina na sua essência estas duas cores. Em síntese, tenho uma frase mais “orelhuda” que até poderia ser aplicado a toda a Madeira sem perder significado ou sentido - Porto Moniz: onde o azul e o verde dão cor ao sonho.
Do alto da Vigia um bom 2022 para todos!