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Bem-vindos madeirenses por esse mundo além

Necessitamos de políticas de integração, de mecanismos que facilitem a contratação de quem busca emprego

Nos últimos anos têm chegado à nossa Região muitos madeirenses de diversas partes do mundo, particularmente da Venezuela. Há quem veja neste regresso um problema. Eu vejo a solução para vários problemas que a Região enfrenta. Além de serem sangue do nosso sangue, podem dar um contributo decisivo para o desenvolvimento e as transformações que a Madeira precisa. Devemos, por isso, recebê-los de braços abertos.

Mas vamos por partes. Que problemas são estes?

1. Demografia. Poucos se preocupam com esta questão, mas é o maior problema que enfrentamos enquanto povo e como Região, porque está em causa a nossa sustentabilidade e existência. Nos censos de 2021 a Madeira foi a segunda região do país que mais população perdeu em 10 anos. Temos menos 16 725 residentes, uma quebra três vezes maior em termos percentuais do que a média do país. O envelhecimento da população é outra realidade. Ao mesmo tempo que há um aumento da população idosa, há um decréscimo da população jovem, sendo que no espaço de uma década passamos de um índice de 91 idosos por cada 100 jovens, para 157 idosos por cada 100 jovens. E o problema vai acentuar-se. O ano de 2021 terá sido mesmo aquele que registou a natalidade mais baixa. Até 29 de dezembro tinham nascido 1662 crianças, menos 77 do que em 2014, até agora o pior ano.

2. Despovoamento. Sendo certo que todos os municípios perderam população, os do norte, particularmente Santana e São Vicente, foram aqueles em que a redução de habitantes foi mais expressiva. Há um enorme desequilíbrio territorial, com 80 por cento da população da Madeira a viver em quatro concelhos: Funchal, Santa Cruz, Câmara de Lobos e Machico. Isto origina nos outros concelhos, graves problemas económicos, sociais e ambientais, em consequência do despovoamento e desertificação rural.

3. Pobreza e desigualdades. A Madeira é a região do país em que há uma maior percentagem de pessoas em risco de pobreza. É aterrador que 84 mil madeirenses vivam muito mal, ou seja, quase uma em cada quatro pessoas.

Como podem os nossos conterrâneos espalhados pelo mundo, contribuírem para os ultrapassarmos todos estes obstáculos ao nosso desenvolvimento?

Primeiro há que dizer que a nossa situação a nível demográfico, social e económico, só não é pior devido aos nossos emigrantes. Mas eles podem e devem ser parte mais ativa do futuro da Madeira, ainda mais do que foram no passado. A Região não seria o que é hoje, se não fossem os investimentos, de quem pelo afecto decidiu aplicar cá dentro o que ganhou lá fora com muito trabalho e sacrifício. E no presente, estes emigrantes que regressam, contribuem mais com investimentos ou pagamento de impostos, do que beneficiam por exemplo em apoios sociais. São empreendedores, criam empregos e geram riqueza.

No que diz respeito à ameaça da diminuição da natalidade e do envelhecimento da população, a vinda de emigrantes jovens e com filhos, pode ser decisiva para inverter este processo. A nossa economia corre o risco de paralisar com uma população ativa diminuta, o que entre outras coisas, coloca em causa o sistema de reformas e pensões. Hoje já nos confrontamos com falta de mão de obra, nomeadamente no nosso principal setor, o turismo.

Necessitamos de políticas de integração, de mecanismos que facilitem a contratação de quem busca emprego, de dar formação e qualificação, de apoiar a abertura de negócios próprios. Tudo isto pode ser usufruído por toda a população, mas não tenhamos dúvidas que seria um atrativo para quem quer regressar. Ajudaria também nesta estratégia, que se simplificasse a relação com a administração pública, bem como se facilitasse o reconhecimento de diplomas académicos, hoje em dia alvo de bloqueios por parte de algumas ordens profissionais.

E se pudéssemos dar condições para que estas pessoas se fixassem nos concelhos mais despovoados, com apoios à habitação, com incentivos ao investimento e bonificações fiscais, com estímulos a projetos de empreendedorismo e de fomento da produção local, resolvíamos um problema e valorizávamos o que tem sido abandonado. O impacto positivo que tudo isto teria na economia e no rejuvenescimento da nossa população, garantia-nos um bom futuro.

O que é preciso é que o governo regional do PSD/CDS seja proativo nestas matérias e deixe de instrumentalizar politicamente estes nossos conterrâneos, tentando por todos os meios manipulá-los. Exemplo disso é a desonestidade de comparar o PS com o dito “socialismo” da Venezuela. O regime daquele país é uma ditadura, cuja política de Estado é assente na corrupção e no narcotráfico. Querer associar isso ao socialismo democrático do PS, partido que tem num dos seus fundadores, Mário Soares, o pai da democracia, é do mais baixo que já vi em política. Estejamos todos do lado verdade e não coloquemos intencionalmente madeirenses contra madeirenses. Com todas as nossas diferenças, todos somos precisos para ajudar a Madeira.