Zero exige "oposição clara" de Portugal sobre gás natural como solução verde
A associação ambientalista Zero manifestou-se hoje satisfeita com a oposição de Portugal relativa à energia nuclear como solução verde, criticando no entanto o "silêncio" do país em relação ao gás natural, sobre o qual exige uma "oposição clara".
Em comunicado, a Zero afirma estar "satisfeita com a posição de Portugal sobre o nuclear na União Europeia", mas acrescenta que "relativamente ao gás natural tem imperado o silêncio".
"A posição pública de Portugal sobre a classificação do gás natural como merecendo uma rotulagem verde a nível europeu não é conhecida", reforça.
O comunicado da associação surge na sequência da divulgação do projeto da Comissão Europeia sobre a denominada "taxonomia", com a qual pretende promover a transição para a neutralidade climática em 2050.
"Os planos da Comissão Europeia divulgados nos últimos dias para incluir a energia nuclear e o gás natural (fóssil) são desastrosos", considera.
No seu entender, "os investimentos em energia nuclear e gás natural não são compatíveis com a trajetória de neutralidade climática da União Europeia e não podem ser considerados investimentos sustentáveis ou com contributo para os objetivos climáticos europeus".
"A Zero apoia" a posição que Portugal teve no recente Conselho Europeu "reforçando a recusa da energia nuclear como uma solução verde e segura" e lembra que o país assinou em 11 de novembro uma declaração com Alemanha, Luxemburgo, Áustria e Dinamarca para excluir a energia nuclear do financiamento europeu.
Porém, continua a associação, "Portugal tem um conjunto de investimentos ainda previstos no que respeita à rede de gás natural e que estiveram em discussão pública há poucos meses no âmbito do Plano Decenal Indicativo de Desenvolvimento e Investimento da Rede Nacional de Transporte, Infraestruturas de Armazenamento e Terminais de GNL (RNTIAT) para o período 2022 a 2031 (PDIRG 2021)".
Também a Greenpeace considerou hoje que a proposta da Comissão Europeia de considerar certos investimentos em energia nuclear e gás natural como sustentáveis é "uma ameaça real à transição energética da Europa".
"Promover essas formas de energia tóxica e cara durante as próximas décadas é uma ameaça real à transição energética da Europa", sustenta a diretora de programas da secção europeia da Greenpeace, Magda Stoczkiewicz, citada num comunicado.
O executivo comunitário apresentou na passada sexta-feira aos países da União Europeia (UE) e aos especialistas da Plataforma de Finanças Sustentáveis o projeto da sua proposta sobre a denominada "taxonomia", com a qual pretende promover a transição para a neutralidade climática em 2050.
Bruxelas propõe que os investimentos em centrais nucleares com licença de construção antes de 2045 sejam considerados sustentáveis, desde que existam planos para a gestão dos resíduos radioativos e o desmantelamento das centrais.
Também propõe, por exemplo, que recebem 'selo verde' os investimentos em instalações de gás natural com licenças concedidas até 2030, se emitirem menos de 270 gramas de Co2 (dióxido de carbono)/kWh (quilowatt/hora).
A organização não-governamental (ONG) WWF também manifestou no sábado, em comunicado, a sua "preocupação" com a proposta e com o facto de a Comissão ter estabelecido 12 de janeiro como prazo limite para os países da União e os especialistas da Plataforma de Financiamento Sustentável se pronunciarem sobre uma medida que descreve como "complexa e polémica".
Bruxelas, que afirma que o seu plano é uma "ferramenta robusta e transparente, baseada na ciência", quer aprovar o ato delegado em janeiro, após ter analisado as observações apresentadas.
O texto deverá, então, receber a aprovação do Conselho da UE, a instituição comunitária que representa os países membros, e do Parlamento Europeu.
Até agora, a taxonomia dividiu os governos europeus, com a França a liderar o grupo de países que quer que a energia nuclear seja considerada sustentável e a Alemanha a opor-se e a defender que sejam os investimentos em gás natural a receber o 'selo verde'.
Já Espanha opõe-se a que os investimentos em qualquer uma das duas fontes em disputa sejam classificados como investimentos sustentáveis.