Europa ergue cada vez mais barreiras para travar entrada de migrantes
Muros e vedações, como o que a Polónia começou hoje a construir na sua fronteira com a Bielorrússia, multiplicaram-se nos últimos anos nas fronteiras de uma União Europeia (UE) sem soluções para lidar com os fluxos migratórios.
Da fronteira greco-turca à zona fronteiriça entre a Áustria e a Eslovénia, passando também pelos enclaves espanhóis (no norte de Marrocos) de Ceuta e Melilla ou por Calais (cidade no norte de França que é passagem para milhares de migrantes que desejam chegar ao Reino Unido), são vários os exemplos de muros, barreiras ou vedações que foram erguidos nos últimos anos nas fronteiras da UE.
Uma visão geral das principais barreiras anti-imigração erguidas nos últimos anos nas fronteiras da UE, segundo uma compilação da agência de notícias France-Presse (AFP):
Fronteira greco-turca
Três anos antes do grande afluxo de requerentes de asilo, que chegaram à Grécia, sobretudo pelo mar, em 2015, a Grécia tinha construído uma barreira de arame farpado com 2,5 a 3 metros de altura na sua fronteira terrestre com a Turquia, um dos pontos de passagem mais usados pelos migrantes.
Esta vedação dupla em arame farpado estende-se por 11 quilómetros, na parte da fronteira onde o rio Evros (noroeste), que noutros pontos constitui um obstáculo natural, entra em território turco.
A melhoria das relações entre Atenas e Ancara e a eliminação das minas terrestres ao longo dos seus 200 quilómetros (km) de fronteira tiveram como efeito tornar a Grécia o primeiro ponto de entrada de migrantes na Europa, numa altura em que a sua economia estava em colapso.
Em 2020, Atenas investiu num novo arsenal anti-migração, incluindo uma cerca de aço com 40 km de extensão e mais de cinco metros de altura, equipada com câmaras e radares.
Entre a Bulgária e a Turquia
Em meados de 2014, uma cerca de arame farpado com 30 km de extensão foi erguida pelas autoridades búlgaras ao longo da fronteira de 259 km com a Turquia, o principal ponto de entrada terrestre de migrantes que queriam contornar a perigosa rota marítima pelo Mediterrâneo. A fronteira está agora fechada ao longo de quase 240 quilómetros.
Na fronteira da Hungria com a Sérvia e a Croácia
Em 2015, o afluxo de mais de um milhão de pessoas que fugiam da guerra e da miséria acelerou a construção de muros.
Na Hungria, um dos principais países de trânsito, o Governo conservador de Viktor Orbán ergueu, em setembro de 2015, uma cerca de arame farpado com quatro metros de altura nos 175 km da sua fronteira com a Sérvia, antes de construir outra barreira, com uma extensão de cerca de 120 km, da fronteira com a Croácia.
Entre a Eslovénia e a Croácia
A Eslovénia, membro da UE e do espaço europeu de livre circulação de pessoas (Schengen), colocou arame farpado em cerca de 190 km da linha de fronteira com a Croácia, também membro da UE, mas não de Schengen.
Em 2021, o Governo esloveno anunciou a construção de uma vedação adicional com mais de 50 quilómetros de extensão.
Medida que contrariou as promessas de Ljubljana, que tinha prometido substituir, nos últimos anos, o arame farpado por uma vedação nas zonas turísticas e nas imediações das localidades.
Entre a Macedónia do Norte e a Grécia
Em novembro de 2015, a Macedónia do Norte, candidata a entrar na UE, iniciou a construção de uma cerca de arame farpado na fronteira com a Grécia.
A primeira secção, com uma altura de 2,5 metros, está localizada em Gevgelija (sudeste), perto da vila grega de Idomeni, então um importante ponto de entrada que era atravessado diariamente por vários milhares de migrantes.
Uma segunda secção foi construída perto do posto fronteiriço de Medzitlija (sudoeste) e, depois, uma terceira perto do Lago Dojran (sudeste).
A extensão total da cerca é agora de 32,2 km.
Entre a Áustria e a Eslovénia
A Áustria iniciou, em dezembro de 2015, a construção de uma barreira num troço da sua fronteira com a Eslovénia, o que constituiu a primeira vez que foi restringido o movimento de pessoas no espaço Schengen.
Com uma altura de mais de dois metros, a vedação feita em malha de arame cobre os cerca de quatro quilómetros da zona fronteiriça de Spielfeld (sul).
A barreira, agora coberta de vegetação tem, no entanto, muitas aberturas que permitem a passagem de agricultores, caminhantes e animais, segundo relatos da imprensa local.
França/Reino Unido, em Calais
A França concluiu, em dezembro de 2016, a construção, ao longo da estrada principal que leva ao porto de Calais (norte), de um muro destinado a impedir que migrantes embarquem ilegalmente em camiões para o Reino Unido.
O muro, com quatro metros de altura e um quilómetro de extensão, é um prolongamento das dezenas de quilómetros de arame farpado que já estavam instalados na via rodoviária.
Financiado por Londres (2,7 milhões de euros), os trabalhos começaram em setembro, antes do desmantelamento de um gigantesco acampamento improvisado de migrantes naquela cidade fronteiriça, que ficou conhecido como "a Selva", onde chegaram a viver vários milhares de pessoas.
Perante o bloqueio do porto e do Eurotúnel, a maioria dos migrantes tenta agora a travessia através do Canal da Mancha, em pequenas embarcações
Enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla
As cercas nos enclaves espanhóis de Ceuta e Melilla, na costa marroquina, são as mais antigas, ao terem sido instaladas na década de 1990.
São os únicos pontos de acesso terrestre à Europa para os migrantes procedentes da África subsaariana e do Magrebe e estão rodeadas por arame farpado ao longo da respetiva extensão que ronda os 10 km.
Em Melilla, a par do arame farpado, as cercas têm também lâminas afiadas em alguns pontos, apesar das denúncias de organizações humanitárias.
Polónia e a fronteira com a Bielorrússia
A Polónia começou hoje a construção de um novo muro na fronteira com a Bielorrússia para bloquear a passagem de migrantes, cujas tentativas de entrada desencadearam uma crise entre Varsóvia e Minsk no ano passado.
Com 186 quilómetros de extensão, quase metade dos 418 km da fronteira, a vedação, feita em metal, terá cinco metros e meio de altura e vai custar cerca de 353 milhões de euros, devendo estar concluída em junho.
O projeto suscitou preocupações aos ativistas de direitos humanos e ambientais. Os primeiros por temerem que os migrantes que fogem de situações de conflito não possam solicitar asilo e os segundos pelos efeitos nocivos para a fauna e flora da zona florestal na fronteira.