Mundo

Eleições na Irlanda do Norte e 'partygate' complicam negociações pós Brexit

Foto EPA
Foto EPA

As eleições regionais da Irlanda do Norte, em maio, e os escândalos internos que envolvem o Governo britânico são dois obstáculos às negociações pós-'Brexit' entre o Reino Unido e a União Europeia, disse ontem o politólogo Anand Menon. 

"O problema é que as questões de fundo permanecem exatamente as mesmas e penso que provavelmente teremos de esperar", afirmou o diretor do centro de estudos do 'think-tank' "UK in a Changing Europe" num evento do EU|UK Forum sobre os prováveis desenvolvimentos nas relações entre a União Europeia (UE) e o Reino Unido este ano.

Em primeiro lugar, disse, "as eleições para [a assembleia regional de] Stormont vão acontecer em maio e vamos chegar a um ponto em que as pessoas [políticos] vão dizer: 'Vamos ter que esperar e ver o que acontece com essas eleições, em vez de arriscar desestabilizá-las'".

O Partido Democrata Unionista (DUP) opõe-se à continuação do Protocolo da Irlanda do Norte, enquanto o principal parceiro no Governo autónomo de Belfast, o Sinn Féin, é favorável. 

Em segundo lugar, Menon referiu a crise política que envolve o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, devido ao escândalo relacionado com eventos em edifícios do Governo que alegadamente violaram as restrições da pandemia da covid-19. 

A polícia britânica confirmou ontem estar a investigar alegadas "festas" na residência do primeiro-ministro, em Downing Street, juntando-se a um inquérito interno do Governo ao escândalo conhecido por "partygate". 

Boris Johnson tem resistido aos pedidos de demissão da oposição e de alguns deputados do Partido Conservador, até agora insuficientes para desencadear uma moção de censura interna. 

"Não penso que qualquer decisão possa ser tomada até sabermos quem está à frente do país porque, em última análise, o futuro do Protocolo é uma decisão do primeiro-ministro", afirmou o especialista em política.

Na segunda-feira, a ministra dos Negócios Estrangeiros britânica, Liz Truss, falou de "progresso" nas negociações entre Londres e Bruxelas sobre o Protocolo da Irlanda do Norte, que é motivo de divergências e tensões. 

Negociado durante o processo do 'Brexit', o mecanismo mantém a Irlanda do Norte no mercado único europeu a fim de evitar uma separação física com a República da Irlanda, tendo em conta que uma fronteira aberta na ilha da Irlanda é uma condição do processo de paz.

Porém, esta solução cria, na prática, uma fronteira entre a província britânica e o resto do Reino Unido devido à necessidade de controlos e documentação, o que provocou atrito no movimento de mercadorias.

Anand Menon disse que Truss trouxe um "toque humano" à relação com o vice-presidente da Comissão Europeia, Maros Sefcovic, diferente do antecessor, David Frost, que se demitiu em dezembro. 

"O tom de David Forst não era muito aberto, ele não era particularmente caloroso. Não havia aquele toque humano, e acho que ela traz isso", comentou.

Após dois encontros presenciais entre Truss e Sefcovic nas últimas semanas foram emitidos comunicados conjuntos, algo invulgar tendo em conta o tom conflituoso que existia, onde foi saudada a "atmosfera construtiva, com o objetivo de fazer avançar as negociações".

Os dois lados vão ter esta semana mais uma ronda de "negociações intensivas", com um novo ponto de situação previsto para a próxima semana.