Lopes da Fonseca e Miguel Iglésias
Ambos deputados na Assembleia Regional. Um é democrata-cristão, outro socialista. Ambos democratas. Ambos portugueses. Ambos eventuais vítimas da ignorância política. No contexto do período revolucionário de 75, “cubano” significava da esquerda radical porque aquela ilha das Caraíbas era governada pelo regime castrista e a direita madeirense, e açoriana, preferia o secessionismo ao socialismo marxista. Até aqui é ideologia, mesmo que, em alguns casos, esbarrasse também com a própria rejeição da democracia e o saudosismo do salazarismo. Esse era o contexto. Hoje, esvaído o contexto político que lhe deu origem, qual o sentido de, numa região portuguesa, democrática e europeia, valer-se da naturalidade de um português, insular ou continental, para pretender privá-lo dos seus direitos políticos? Racismo, paraxenofobia, ressentimento recalcado? Recalcado? De que é que estou a falar? De ouvir, em apartes, ou como tema essencial do discurso, denegrir um deputado do parlamento regional, no caso, o socialista, em função da sua naturalidade. E então? Ora bem, forma de atingir o partido democrata-cristão, a quem o PSD entregou a condução do parlamento e deu guarida no governo, atirando ao socialista procurando atingir, de viés, o democrata-cristão. Ah pois, isto é muito rebuscado! Alguns dirão que é racismo, ou (para)xenofobia, outros racismo. Eu direi que é ignorância histórica e ideológica. Além de estupidez. É que, se não fosse estupidez humana, e fosse mesmo xenofobia, que sentido faz, no centro da cidade, tantas homenagens a outros tantos ditos cubanos, tipo estátua de Zarco ou do Infante, que bem podiam ser substituídas pelas de Alberto João Jardim e de Miguel Albuquerque, ou a Avenida com o nome desse “cubano” responsável pela renovação do idioma português que é o quinto do mundo, o 3º do hemisfério Ocidental e o mais falado do hemisfério Sul, que é Camões? Ora adeus, é mesmo muito rebuscado para falar de chicana política. E Ventura ali tão perto. Chega!
P. S, uma confidência, do lado materno, avô do Seixal, avó de Santa Cruz, portanto, madeirenses autóctones, que brotaram das profundeza das montanhas. Já do lado paterno, tudo vem de fora, a avó da Ilha do Pico, o pai da Ilha do Faial e o avô das Beiras, costela cubana. Estou feito ao bife!
Miguel Fonseca